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Confira a entrevista com Breno Lira Gomes, curador da Mostra Pérola Negra: Ruth de Souza

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Primeira atriz negra a encenar um espetáculo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e também a protagonizar uma novela na TV brasileira, Ruth de Souza é a grande homenageada da mostra “Pérola negra” que reúne diversos trabalhos dessa atriz pioneira. Ruth iniciou a carreira no Teatro Experimental do Negro e se tornou referência para várias gerações de atrizes e atores negros que vieram depois. Se destacou em produções cinematográficas como Sinhá Moça, pela qual concorreu ao Leão de Ouro de melhor atriz do Festival de Cinema de Veneza.

Confira abaixo a entrevista com o idealizador e curador da Mostra, Breno Lira Gomes.

O que te levou a montar o projeto Pérola Negra e qual o seu intuito?

Breno Lira Gomes – A mostra Pérola Negra: Ruth de Souza veio para prestar uma justa e bela homenagem a essa grande atriz. Da mesma forma que Ruth de Souza abriu caminhos, essa primeira edição do projeto vem para valorizar e dar o merecido reconhecimento ao trabalho de atrizes, atores e cineastas negros brasileiros. Em uma época onde o racismo via redes sociais vira e mexe é pauta na mídia, esse projeto se mostra bastante oportuno. É necessário mostrar para uma nova geração quem foram os pioneiros, aqueles que mesmo contra todas as opiniões, conseguiram alcançar o sucesso profissional. Não é mais aceitável nos dias de hoje que a cor da pele de uma pessoa, seja primordial para dizer se ela é boa ou não profissionalmente. No caso dessa mostra, D. Ruth de Souza provou ser uma boa atriz, que domina a arte dramática como qualquer profissional branco contemporâneo a ela.

Qual é a importância de Ruth de Souza na cultura brasileira?

Breno Lira Gomes – D. Ruth de Souza é uma atriz com passagem pelo teatro, cinema e televisão. Imagina nos anos de 1940 o rebuliço que deve ter sido quando ela estrelou Imperador Jones, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Só por isso, ela já merecia todas as homenagens. Ali foi só o primeiro passo de uma carreira de sucesso. Ela era uma das estrelas do estúdio Vera Cruz, foi uma das primeiras contratadas da TV Globo, onde permanece até hoje. Sem D. Ruth de Souza não teríamos Taís Araújo, Zeze Barbosa, Adriana Lessa, Sheron Menezes. O caminho aberto por D. Ruth foi essencial para que várias gerações de atrizes, e também de atores, negras surgissem nos palcos e telas do país. Ela contribuiu muito para a nossa cultura, participando de filmes que foram exibidos no mundo todo, lutando pelo seu espaço no cenário das artes dramáticas.

Podemos considerar a possibilidade da Mostra em desmitificar o preconceito racial através de obras representadas por uma das maiores atrizes negras do país?

Breno Lira Gomes – Acredito que essa mostra colabore bastante para desmitificar isso sim. Óbvio que D. Ruth fez papéis, como de escrava em Sinhá Moça, que vão dizer que somente uma atriz negra poderia fazer. Mas ela conseguiu pegar papéis onde a cor da pele ou origem racial da personagem não importava. Ela por si só, conseguiu de um jeito bem particular quebrar essas barreiras, e se impor como a profissional competente e talentosa que é.

Qual a sua relação com o trabalho de Ruth de Souza?

Breno Lira Gomes – As lembranças que tenho dos trabalhos de D. Ruth de Souza são mais na televisão do que no cinema. Aliás, seus filmes eu vim a assistir depois que o meu olhar para o cinema foi ficando mais curioso. Esse projeto ta sendo uma oportunidade para me aproximar mais dos filmes em que ela trabalhou. E acredito que seja uma forma para que o público em geral também se aproxime. Muitos irão para rever, mas imagino que muita gente talvez irá assistir Sinhá Moça, por exemplo, pela primeira vez. Esse projeto é uma aula de história do cinema brasileiro, e do próprio país.

Quanto de tempo de pesquisa para montar a Mostra?

Breno Lira Gomes – Eu e a Mariana Sobreira, produtora executiva do projeto, estamos envolvidos diretamente desde 2014, quando o projeto foi selecionado pelo edital de ocupação do CCBB. Mas a idéia de realização vem desde 2008. A pesquisa não foi nada fácil, pois muitos filmes se perderam ou não encontramos os detentores dos direitos. Infelizmente a memória do audiovisual brasileiro está largada. As instituições existentes que prezam por isso, são obrigadas a trabalhar com um contingente baixo de pessoal e com pouca verba. E quem perde com isso somos todos nós, que vemos nossa história e memória se perder.

Dentro das 25 produções, você destacaria quais obras?

Breno Lira Gomes – A mostra é uma boa oportunidade para assistir “Sinhá Moça”, “O assalto ao trem pagador”, “Filhas do Vento” e ao programa “Caso Verdade: Quarto de despejo”. D. Ruth considera esse último seu melhor trabalho na televisão. Tem uma curiosidade na programação que é uma produção de terror chamada “O mistério da Ilha de Vênus”, ou “Macumba Love” em inglês. Fiz muita questão de programar esse filme, pois D. Ruth faz uma feiticeira vudu. E conversando com ela, percebi que se divertiu muito fazendo esse trabalho.

Serviço:
Mostra Pérola Negra:Ruth De Souza
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro – Cinema I(Rua Primeiro de Março, 66, Centro)
Temporada: 24 de agosto a 12 de setembro
Funcionamento da bilheteria: de 4ª a 2ª, de 9h às 21h.
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia entrada).
*algumas sessões são gratuitas
Telefone CCBB: 3808-2020

Fotos: Divulgação

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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