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Curadores da Mostra Novo Cinema Indiano falam sobre a construção da Mostra e de Bollywood

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Confira a entrevista com os curadores Carina Bini e Shankar Mohan, da Mostra Novo Cinema Indiano que apresenta uma programação inédita no Brasil. São 10 filmes produzidos nos últimos três anos e que representam uma nova geração de cineastas indianos.

1. O que levou a criar a exposição?

Carina Bini – Venho pesquisando e trabalhando com o cinema indiano desde que decidi ir para Índia fazer uma pós-graduação em cinema em 1997. Descobri não apenas o cinema indiano, mas uma cultura que me encanta. Então a mostra Novo Cinema Indiano, é uma consequência desse trabalho que tenho feito ao longo de anos. Como não sou uma fã de carteirinha do cinema comercial indiano, sempre busquei uma cinematografia que reflete a essência da Índia. Descobri o cinema autoral, que retrata a Índia e sua cultural com autenticidade. Esse cinema é pouco conhecido no Brasil, então é uma realização muito grande poder apresentar esse estilo de cinema por aqui, especialmente filmes recentes, de uma geração de cineastas jovens que buscam o “caminho do meio” entre o cinema de grande público e autoral. Para selecionar os títulos dessa mostra, trabalhei cerca de 2 meses com o curador Shankar Mohan, definindo uma linha dentro daquilo que esperávamos trazer para o Brasil, que é a diversidade desse cinema de conteúdo.

Shankar Mohan – Bem, meu conhecimento no cinema indiano, e sua grande popularidade no Brasil, e claro, minha longa amizade com a diretora do festival Carina Bini.

2. Podemos considerar que a mostra é uma homenagem ao cinema indiano? Qual é a importância dela culturalmente?

Carina Bini – A homenagem que essa mostra propõe é para o cinema indiano e sua diversidade que o faz tão rico e intrigante. A Índia tem uma cultura instigante, e esse estilo de cinema que trazemos é o que mais reflete essa cultura propriamente dita. Considerando que aqui no Brasil é muito raro esse cinema indiano, não está disponível nem mesmo na internet, então há um ganho cultural imenso numa mostra como essa, pois trazemos um extrato de um dos cinemas de um dos maiores produtores cinematográficos mundiais. Além disso, esse cinema vai representar a diversidade cultural que é aquele país, pois trazemos filmes em diversas línguas das diferentes regiões da Índia.

Shankar Mohan – Eu trabalho na Organização Internacional de Festivais na Índia nos últimos 25 anos, por esse motivo, é fácil para mim me conectar com diretores, produtores e empresas na Índia. Para essa mostra, foram cerca de 2 meses para iniciar o projeto. Depois que o básico está feito, é questão de tempo afinar com a Carina a escolha dos títulos. A Carina foi muito clara sobre o que queria, o que tornou o meu trabalho muito fácil. Mas alguns filmes foram difíceis de conseguir por que os diretores / produtores eram novos e não sabiam exatamente o que queriam para os seus filmes, em termos de promoção internacional. Ou , as vezes, quando havia diferença de opiniões entre eles.

A Índia é um país enorme e as vezes, o cineasta pode estar em uma parte enquanto o produtor está em outra, coordenar a comunicação entre eles pode se tornar um problema. Mas , geralmente, é como velejar tranquilamente!

3. Como foi o processo da escolha dos filmes?

Carina Bini – A diversidade de linguagens do cinema indiano é encantadora e isso é um reflexo da própria cultura da Índia. Temos várias Índia naquele subcontinente, e o cinema traz bem isso. Além de filmes feitos em pelo menos 10 línguas diferentes, os diferentes estilos de filmar e contar uma estória também caracterizam o cinema desse país. Outra característica marcante é que o cinema é feito para seu público local, daquela determinada região, com uma demanda interna consumidora. O cinema indiano tem sido pra mim é um universo incrível de descobertas e uma fonte para entender o poder do cinema numa cultura e também uma veia para descobrir essa cultura e seus arquétipos.

O grande contraponto é a linguagem, pois Bollywood vende uma formula, com melodrama e músicas dentro do desenrolar do filme, quase como um videoclipe amoroso no meio do filme, que faz a plateia sonhar com momentos inesquecíveis do mocinho com sua amada. Essa é uma formula do cinema comercial de várias regiões do país. Percebi que os indianos vivem intensamente esse momento sonhador da estória, se projetam nele. Os filmes da mostra trazem um cinema totalmente diferente, sem “dancinhas”, com estórias de uma Índia real, sem estereótipos, que questiona e aponta os desafios de uma sociedade de tradição milenar em profundas transformações.

4. Qual é a importância de Bollywood na Cultura Mundial?

Carina Bini – Há um estereótipo acerca do cinema indiano, especialmente em se tratando do que chamam de Cinema Bollywood, termo que nem mesmo os indianos realizadores gostam de definir, pois Bollywood é o que eles chamam de cinema hindi, feito na língua hindi. Então definir o cinema indiano como Bollywood é reduzir o cinema desse país há um estilo, um microcosmo. Claro que não podemos negar que Bollywood é uma indústria fortíssima, que fatura milhões. Mas assim como essa indústria, há por exemplo, a indústria do cinema Tamil, do estado de Tamil Nadu, que também realiza mega produções e fatura milhões. É curioso perceber que na Índia as indústrias regionais competem entre elas.

Admiro a seleção de filmes dessa mostra pois traz a possibilidade para o público conhecer um cinema indiano tão inédito ainda desconhecido aqui. Vivi na Índia nos últimos 3 anos e convivendo dentro da sociedade de um estado do sul do país, consegui entender como o cinema indiano definitivamente não é apenas “Bollywood”. Há sim um forte cinema comercial mas que carrega aspectos da cultura regional da indústria de onde é produzido. Assim, como Bollywood, existem hoje outras indústrias fortes de cinema, como a indústria do cinema Tamil, que tem mega produções e bilheterias que rendem milhões. Mas essa mostra ainda vai além, pois fugimos desse cinema de formulas padronizadas e buscamos mostrar o cinema “autoral”, de realizadores de diferentes regiões da Índia. Esse cinema chega nas salas comerciais e é exibido no circuito de festivais, trilhando um “caminho do meio” entre o cinema cult e comercial. Há uma geração de cineastas que buscam esse caminho para seus filmes.

Shankar Mohan – A palavra ‘Bollywood’ é um termo usados por alguns jornalistas na India, mas profissionais da industria cinematográfica não gostam deste termo por indicar subserviência a Hollywood! Os filmes ‘Bollywoodianos’ são chamados de filmes Hindis, por que são feitos nessa linguá. A Índia anualmente produz cerca de 1400 filmes por ano, contando com 18 linguás regionais. Isso faz da Índia, o maior produtor de filmes no mundo seguido da China. A industria cinematográfica indiana alcançou um rendimento de $1.87 bilhões em 2011. Em 2015, o pais teve um total de rendimento por volta de $US 1.8 bilhões, o quarto maior no mundo, fora a America do Norte.

4. Como você vê Bollywood no futuro? Pode ser maior que agora?

Shankar Mohan – O cinema é uma forma muito popular de entretenimento na Índia que a cada ano está crescendo. A projeção estimada para 2016 é em torno de US4 3.5 bilhões

Na Índia, existem 3 tipos de filme: o independente, os filmes produzidos por grandes empresas de entretenimento e os filmes regionais propagados pelo país .

5. É possível que os filmes brasileiros e indianos tenham similaridade?

Shankar Mohan – Emoções e sentimentos são universais! Ambos os países sofreram com a colonização e a nossa industria cinematográfica vem sendo influenciada desde 1900, pelos Irmãos Lumier e consequentemente, seguida pelo Neo Realismo italiano e pela Nouvelle Vague (França). Mas na Índia tem sido visto uma forma muito estável de democracia nos últimos 65 anos, enquanto no Brasil, muita agitação politica aconteceu.Além disso, a geo-politica dos dois países são diferentes. Nós, portanto, conseguimos ver essas preocupações nos filmes brasileiros, enquanto no cinema indiano o foco é o entretenimento, além dos filmes independentes que trabalham os problemas sociais. Então, há grandes diferenças no conteúdo e no estilo de se fazer filmes. O que temos em comum é a preocupação com a humanidade, a necessidade de erradicar a pobreza e a fome e mais trabalho para a juventude.

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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