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Mãe! Nova obra de Aronofsky traz receita antiga que consagrou o cineasta

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Um dos mais esperados lançamentos do ano, Mãe!, de Darren Aronofsky certamente provocará reações ambíguas da crítica e público. Como se ele já não estivesse acostumado e até mesmo gostasse disso.

Antes de prosseguir com a crítica, uma importante curiosidade que o ajudará a entender o texto. Os personagens são inomináveis, ou seja, não possuem nomes. Por isso me refiro aos personagens interpretados por tais atores e atrizes.

Classificado como um thriller o longa faz jus ao tema quando se sustenta num suspense psicológico concentrado na protagonista interpretada por Jennifer Lawrence, usando elementos técnicos como a câmera subjetiva em grande parte da trama. No entanto, não há sustos. Ponto positivo, ao meu ver, no trabalho de Aronofsky. Um suspense estável, mantido durante quase todo o filme, prende muito mais o espectador à trama.

Mas o que me desafiou em Mãe! foi o roteiro. Isto porque Darren nos oferece um cardápio de clichês nos primeiros minutos da trama que se desmancham ao longo da história da mesma forma como as visões que a protagonista acaba tendo com certa frequência, sem muito critério.

Citando tais clichês: uma casa antiga no campo, isolada, com dois pavimentos mais um porão escuro com uma caldeira que acende misteriosamente sempre que a personagem lá está. Móveis e elementos de decoração envelhecidos e aparentemente “amaldiçoados”, como um cristal que se assemelha a um diamante. Um casal aparentemente feliz, onde ela, uma jovem apaixonada e devota ao esposo (Javier Bardem) visivelmente mais velho e com um misterioso charme, escritor sem inspiração desde que perdeu a família num incêndio na mesma casa. (Este, o segundo forte clichê).

O filme começa sem muitos diálogos e “monótono”, ele é primordialmente guiado pelas expressões de Lawrence, que já nos transmite desde os primeiros instantes, uma inquietude.

Enquanto seu marido, sentindo-se impotente e deprimido com a falta de criatividade se afasta e se isola, ela faz reparos na casa e tenta o incentivar, elogiando sua capacidade e tentando aproximação.

Até que a campainha da casa toca, no meio de uma noite silenciosa. Um homem que se apresenta como um médico-cirurgião interpretado por Ed Harris, diz que se perdeu procurando por hospedagem. Ele é convidado pelo escritor a passar a noite. Numa de suas primeiras cenas, deixa cair no chão um isqueiro com a imagem de Jesus. (Mais um clichê de suspenses em casas amaldiçoadas.)

Já nas horas subsequentes, uma série de eventos surreais começam a acontecer na casa, especialmente com a chegada da esposa do médico na manhã seguinte, personagem de Michelle Pfeifer, que com uma petulância invasiva, imprime um terror psicológico na mente da jovem dona de casa. É aí que parece que Darren Aronofsky nos desafia. A sequência de acontecimentos é digna de um “puzzle” daqueles de realmente quebrar nossas cabeças. Os clichês começam a se desfazer, e cabe a cada um que assiste tentar decifrar tal desafio imposto pelo roteirista.

Cercado de simbolismo religioso e mistério, Mãe! intriga e impacta, questionando a nós mesmos se estamos entendendo a mensagem da trama. É, sem dúvida, cheio de metáforas intrínsecas.

Destaque para as atuações de Lawrence, obviamente, que dita o ritmo todo do thriller, Michelle Pfeiffer como “the perfect bitch” e Barden, embora seja para mim uma espécie de Travolta espanhol, aparece no papel do sedutor irritante e vilão, exatamente como proposto pelo roteirista.

Como referências, em diferentes momentos da trama eu me vi em outros romances onde personagens são escritores em crise. Impossível não fazer referência à Animais Noturnos de Tom Ford, ou o mais longínquo no tempo, A Janela Secreta, de Stephen King e até mesmo O Cidadão Ilustre do argentino Andrés Duprat, aonde não se sabe o que é real ou imaginário, o que foi vivido ou escrito.

E sem revelar o final obviamente, mas dando uma ideia do quão intrigante é Mãe!, o personagem de Javier Bardem, ao fim da trama, me levou à John Milton, de Al Pacino em Advogado do Diabo de Andrew Neiderman.

Mãe! é definitivamente perturbador. E Darren Aronofsky mais uma vez conseguiu o que queria.

Cabe à vocês me dizerem se o filme é isso tudo ou me deixou louco!

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