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Mauro Trindade, curador da mostra Natureza Concreta, fala sobre a exposição

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A exposição Natureza Concreta discute e aprofunda um tema de interesse permanente na arte, na ciência e na filosofia: as relações dos seres humanos com a natureza e o mundo que os cerca. Entre fotografias, vídeos e instalações em formatos variados, serão apresentadas 94 obras de 17 artistas e grupos brasileiros, na Caixa Cultural Rio de Janeiro, de 9 de setembro a 12 de novembro de 2017.

Confira abaixo a entrevista com o curador da mostra.

Podemos considerar a exposição/mostra um movimento em busca de um mundo melhor? Qual é o objetivo dela?
Mauro Trindade – Olha, a exposição tem um compromisso bastante claro com algumas questões, como a preocupação com a destruição da ecossistemas do cerrado e da Amazônia, a qualidade de vida das populações nas grandes cidades, o direito de ir e vir cerceado por problemas de mobilidade, o custo da moradia, a gentrificação e a especulação imobiliária, entre outras. Mas, principalmente, a exposição oferece a possibilidade de pensar na nossa maneira de enxergar o que, afinal, são essas “coisas” que chamamos de Natureza e de Cultura, e se realmente existe uma separação entre elas ou é uma forma historicamente construída de encararmos a realidade. Até mesmo aquilo que temos de mais nosso e particular, que são nossos corpos, ficam onde nessa divisão entre a Natureza e a Cultura? Talvez existam outras formas de se encarar o mundo.

É possível discutir natureza através da Arte?
Mauro Trindade – Claro, é uma longa relação que a arte mantém com a Natureza, realmente milenar. Lá atrás, os gregos teriam valorizado a aproximação da pintura com a realidade, em busca de uma imitação tão fiel que seria capaz de enganar tanto os pássaros quanto os homens, como na célebre disputa de Zêuxis e Parrásio. Mas a arte costuma ser mais composição que mera reprodução e os sentidos que passa a adquirir ultrapassam e muito uma única e engessada interpretação. Mesmo a fotografia, costumeiramente entendida como uma “prova” do real, também pode ser realizada de forma muito particular e trazer uma forte subjetividade.

O fotografo Alexandre Sant’Anna expõe seu olhar sobre a Amazônia, podemos contrapor o trabalho dele com o de Sebastião Salgado?
Mauro Trindade – Contrapor é entendido quase sempre com opor, menos que comparar. Não vejo um oposição entre eles, mas formas distintas de trabalhar. Sebastião Salgado é um fotógrafo que deixou uma importante reflexão sobre o mundo natural chamada “Gênesis”. Creio que o Alex Sant’Anna aproxima-se mais de outros autores, como Marcel Gautherot, além de ser uma atualização importante na forma de interpretar a floresta amazônica, sem o glamour que a era das revistas ilustradas, como a Manchete, emprestaram – e muito bem, por sinal – à Amazônia. Sua floresta é mais escura, mais tátil e mais envolvente.

Ciência Vs. filosofia. Com as relações humanas influenciam no regimento da natureza?
Mauro Trindade – O impacto humano sobre a Natureza é devastador, mas não creio que isso se deva à uma espécie de maldade inata dos homens. Vivemos em um mundo dividido de homens divididos, dirigidos por uma ganância sem limites, porque há poucos limites para os poderosos. A venda – se preferir doação – da Reserva Nacional do Cobre e Associados, a Renca, é o mais recente exemplo desse desprezo pelo meio ambiente e ambição doentia levada a cabo por pessoas cujo destino final é o lixo da História. Ciência, progresso e desenvolvimento são conceitos que estão inseridos num determinada maneira de encarar a vida e o mundo e não são valores isentos de ideologia. Pelo contrário.

Fotografias, vídeos e instalações, fomo foi processo de criação e de pesquisa? E do que será exibido?
Mauro Trindade – Cada artista e coletivo desenvolveu se trabalho de forma independente. Alguns deles trabalham em questões como paisagem, Natureza e cidade há décadas e aqui eles apresentam um pouco do melhor de suas pesquisas. Há muita coisa para ver, são cerca de 100 obras de arte, de artistas muito variados. Tenho certeza que todos que virem essas imagens não irão apenas apreciar a beleza e a estranheza delas, mas poderão refletir um pouco mais sobre o mundo e nossas próprias vidas.

 

Alê Shcolnik
Alê Shcolnikhttps://www.rotacult.com.br
Editora de conteúdo e fundadora do site, jornalista, publicitária, fotografa e crítica de cinema (membro da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro). Amante das Artes, aprendiz na arte de expor a vida como ela é. Cultura e tattoos nunca são demais!

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