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Novo longa de Teresa Villaverde, “Colo” , aborda a crise econômica em Portugal

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Depois de passar pela 67ª edição do Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro, o drama lusitano Colo chega aos cinemas brasileiros esta semana trazendo como tema principal os efeitos da crise econômica em Portugal sobre os cidadãos e usando como objeto de estudo uma família de classe média que assiste, aos poucos, sua vida desmoronar por causa da falta de dinheiro. Para isso, o longa de Teresa Villaverde se utiliza de muitos simbolismos – talvez até demais.

O enredo acompanha a rotina de um pai (João Pedro Vaz), uma mãe (Beatriz Batarda) e a filha de 17 anos, Marta (Alice Albergaria Borges), enquanto eles tentam, com muito custo, acostumar-se com a nova situação financeira da família. O pai está desempregado e passa as tardes ociosas tentando preencher o vazio que sente, a mãe tenta se dividir em dois empregos para dar conta das despesas da casa, e os dois acabam por negligenciar a filha, que não vê a hora de sair de casa e seguir o próprio rumo.

Assim, a direção de Teresa – que também roteirizou – possui um tom intimista, essencial para que o espectador seja colocado dentro da situação das personagens e sinta empatia por elas. O design de produção e a cinematografia, utilizando tons ocres e cinzentos, “feios”, dão o tom de opressão gradual que, lentamente, anula a força de vontade do trio, o qual deixa de ser uma família para se tornar apenas um grupo de pessoas que, dadas as circunstâncias, tem de habitar a mesma casa.

Com isso, a comunicação entre as três partes passa a ficar cada vez mais superficial – geralmente as conversações envolvem dois membros da família se perguntando sobre o paradeiro do terceiro que saiu sem avisar –, é raro ver todos juntos. Assim, a casa, que deveria ser o refúgio, um campo aparte dos problemas passa a ser uma arca de rancor, vergonha e sofrimento. Estabelecido este cenário, a diretora passa a inserir um novo simbolismo a cada curva da história.

Contudo, por mais que a maioria deles sejam eficazes – como, por exemplo, um balde na cabeça para fugir do mundo, um mergulho nu no mar e uma pessoa girando e gritando no meio de uma estrada, à espera de um ônibus que nunca chega para levá-la para casa –, chega um ponto do enredo que todos estas metáforas para a incomunicabilidade, melancolia e necessidade de fuga que assola esta família deixam de contar a história e passam a apenas inchá-la.

Aliás, esta é a maior falha de Colo, o filme é muito longo para a trama que tem. São 2 horas e 16 minutos de uma história que poderia ser contada sem sofrer qualquer ônus em, no máximo, duas horas – quase todo o terceiro ato mostra as personagens “andando em círculos”, tentando encontrar o melhor caminho para si, o que é uma excelente simbologia, mas perde força ao ser exibida por quase trinta minutos; a cada cena, o espectador sente que está assistindo a uma série de fins alternativos.

Já o segundo – e último – defeito do longa está no quesito interpretação. João Pedro Vaz e Beatriz Batarda, os pais, cumprem seus papéis de forma competente, crível, mas nada de excepcional. Já Alice Albergaria Borges, que interpreta a adolescente, e Clara Jost, que dá vida à Júlia, melhor amiga de Marta – uma personagem que só ganha destaque perto do fim do filme – possuem desempenhos amadores, a ponto de poderem ser superados por qualquer atriz iniciante de “Malhação”.

Porém, isso não tira o valor do filme, pois o roteiro é autoconsciente e não tem medo de parecer patético em alguns momento – patético como suas personagens, que agonizam em busca de colo, feito crianças. Trata-se de um filme impactante, útil, que foge do clichê e dos lugares-comuns. Possui dois primeiros atos bons, um terceiro ato moroso e um pouco redundante, mas é encerrado por uma avassaladora, áspera e bela cena, que resume todos os simbolismos da trama. Vale a pena, mas exige paciência.

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