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REZA A LENDA

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 Por Rômulo de Sá Pereira
Reza a Lenda é o típico filme costurado de ideias. Muitas, algumas boas, outras nem tanto. O grande problema está na malha que vai juntando umas às outras. Dá até para imaginar a conversa entre produtores e roteiristas: “Vamos fazer uma espécie de Mad Max brasileiro, o Mad Max do Sertão!” “Mas se é no Sertão, poderíamos colocar algumas referências à Lampião e Maria Bonita, né?” “E podemos também falar de religião, sobre fé e crença e a exploração dessas para alcançar o lucro, certo?” “Para dar um ar moderno e aproximar o público, coloquemos também uma jovem da cidade, que cai de pára-quedas no meio de toda a confusão.” E por aí vai, ideia atrás de ideia.
 
O longa é o primeiro de Homero Olivetti, diretor de comerciais e um dos roteiristas de “Bruna Surfistinha,” de 2011. Nele, Ara (Cauã Reymond) é o líder de um bando de motoqueiros, uma versão moderna dos cangaceiros, que desbrava o Sertão atrás de uma Santa Dourada. Segundo a lenda, a imagem trará a chuva se for devolvida ao seu suposto local de origem. Severina (Sophie Charlotte) é a namorada do anti-herói e é mais uma ciumenta com medo de perder seu homem do que uma forte companheira de amor e guerra. Já Laura (Luisa Arraes) é, assim como Severina, uma personagem de somente uma dimensão. Uma mocinha indefesa, que funciona na trama como uma espécie de moeda de troca e terceira peça de um triângulo amoroso que mal se sustenta.

O texto que abre o filme nos entrega um filme de terror, um potencial slasher nos moldes oitentistas. Logo depois, com a introdução do bando protagonista, passamos a assistir um longa de ação nos moldes do já citado Mad Max. A segunda impressão perdura, mas outros elementos vão sendo adicionados de forma tão displicente (romance, seca e pobreza, religião, política…) que, no final, o que temos é uma massa totalmente inconsistente, sem identidade alguma.


Assim como a narrativa, a fotografia de Marcelo Corpanni também sofre com falta de balanço e identidade. Ora é belíssima, como nos vários planos abertos das motos cortando as estradas do Sertão, nas cenas de ação, bem orquestradas, e na cena de transe lisérgico comandada por Galelo Lorde (Júlio Andrade). E ora beira a pieguice, principalmente nas cenas de transição. Há abuso no uso do time lapse e algumas passagens parecem saídas diretamente de um comercial de roupas ou sapatos femininos. Por exemplo, Severina está em primeiro plano, sentada no chão encostada na parede de um casarão em ruínas, outra personagem está, em segundo plano, sentada no buraco de uma janela e, por fim, um terceiro completa o quadro de pé encostado numa árvore na extremidade direita. No fim, só faltou as letras com o nome da marca e o anúncio da nova coleção de verão, outono ou primavera. 

Além do trio principal, os outros personagens (são diversos) também sofrem com a falta de foco do filme. O vilão Tenório (Humberto Martins), típico coronel da região, que explora a população ao cobrar para que se tenha um vislumbre da tal Santa Dourada, tinha tudo para ser memorável (sua relação, por assim dizer, com os balões de São João é uma ideia incrível, mas mornamente executada). Sofre mais ainda Pica Pau (Jesuíta Barbosa). O ator de “Praia do Futuro” se entrega para transformar o braço direito e espécie de pupilo de Ara em um personagem multifacetado, crente a sua fé e ao seu amigo e líder, mas, ao mesmo tempo, reticente quanto às suas atitudes e ao caminho que o bando está seguindo. Porém, o pouquíssimo tempo em tela e a incrível capacidade dos diálogos de darem rasteiras no elenco não ajuda em nada seu trabalho.   

 

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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