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Dêmonio de Neon

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“Canis manducare canis” (cão come cão) é um ditado em latim relativamente conhecido que se aplica a situações em que aja um certo conflito para se possuir algo. Tal afirmação se prova totalmente aplicável no enredo de “ Demônio de Neon”, aonde a jovem e inocente Jessie (Ellen Fanning) se muda para Los Angeles rumo ao sonho de se tornar uma grande modelo. No entanto, nada é o que parece nesse mundo aonde a aparência é literalmente tudo.

O fato da palavra Neon estar em evidência no título não é acaso, todas as palhetas de cores presentes durante a projeção são intensas, não importando o quão seja escura ou clara. Aliás, o diretor Nicolas Winding Refn dita os rumos do filme inteiro através da mudança de cores e da trilha sonora (ex: em certa cena tensa, a luz ambiente torna-se subitamente vermelha e inicia-se uma série de acordes graves ou em momentos de contemplação tem-se uma iluminação pálida seguida apenas de som ambiente). Por muitas vezes, a impressão passada é que o filme poderia ser de autoria do Brian de Palma, pelo uso de cores vivas e trilhas gradativas. Além do belíssimo estilo dos cenários e figurinos, escolhidos a dedo para cada ator.

Entretanto, a película encontra sérias dificuldades de se impor na parte do roteiro. Não há um gancho claro entre as cenas, nada que ligue um acontecimento a outro, por consequente a ideia de continuidade fica muito prejudicada e portanto o desenvolvimento de certos personagens, que poderiam ser muito mais e acabam não o sendo. A ideia passada pela história, é de que os roteiristas quiseram criar diversas situações metafóricas para simbolizar o quão deplorável é o mundo artístico, o que em certos momentos funcionam, mas, no geral, o excesso de desejo em fazer metáforas torna o filme quase como algo efêmero, uma enorme quantidade de momentos sem solidez.

Por fim, “Demônio de Neon” não é um filme padrão. Seu estilo de narrativa é algo completamente fora do comum (para o bem e para o mau). A direção é feliz em conseguir passar a ideia visual de um mundo de glamour ao usar os ensinamentos que grandes diretores deixaram sobre corese fotografia.

O elenco em si é muito bom, todos comedidos em suas situações chave. O real problema é a narrativa que como já dito tenta por demais ser algo novo mas se esquece da regra mais básica, que é a clareza de se contar uma história. No final do filme tem-se a impressão de que a película, assim como as modelos, é visualmente perfeita e apaixonante mas por dentro é um ser confuso e com um senso de identidade muito nebuloso.

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