Desculpe o Transtorno

A comédia romântica traz Gregório Duvivier no papel de um jovem que desenvolve outra personalidade depois de perder a mãe. A personalidade de Eduardo, um workaholic metódico paulistano, passa a alternar com a de Duca, um bon vivant carioca. Tal condição parece ter sido provocada por um trauma de infância: o menino teve que escolher entre morar com a mãe (no Rio de Janeiro) ou com o pai (em São Paulo). Quando volta ao Rio, muitos anos depois, o contato com sua terra natal parece trazer à tona uma parte sua aparentemente esquecida.

Apesar do plot ser uma questão traumática, o filme não se aprofunda no fator psicológico e toma a direção de uma comédia quase besteirol que aposta no desgaste de estereótipos para arrancar algumas risadas. O transtorno dissociativo de identidade, popularmente conhecido como dupla personalidade, torna-se aqui apenas um pretexto para esgarçar clichês que separa cariocas e paulistanos através de lugares-comuns já bem cansativos, que vão do sotaque ao cenário, da maneira de perceber ao jeito de interagir com o meio e com os outros.  A narrativa poderia ter rendido bons frutos se tivesse enveredado por trilhas menos estereotipadas.

A condição fraturada do protagonista se transforma num dilema quando ele se vê obrigado a escolher que caminho seguir: Eduardo ou Duca, São Paulo ou Rio, a noiva chata ou a mina cool que aparece do nada.

O filme, com direção de Tomás Portella (Isolados e Operações especiais) e roteiro de Adriana Falcão, é decepcionante para quem curte humor inteligente. Além de Gregório Duvivier (que manda bem nos vídeos e nos livros), fazem parte do elenco Clarice Falcão, Dani Calabresa, Rafael Infante, Marcos Caruso e Zezé Polessa. Aliás, o que salva é o elenco formado, em sua maioria, por integrantes do Porta dos Fundos que já mostrou afinação ao fazer humor de qualidade.

Foto: Divulgação