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“Luas de Há Muito Sóis” surpreende pela simplicidade em cena

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Em um trabalho de mestre, Moncho Rodriguez assina o texto e a encenação de um espetáculo delicado e comovente. O texto inspirado em “As Três Irmãs” de Mia Couto, traz a história de Gilda (Priscila Danny), Evelina (Natascha Falcão) e Flornela (Marina Duarte), que foram criadas isoladas do mundo sob as rédeas de um pai coronel. Quando as cortinas se abrem, uma estética bastante singular se revela e a montagem vai tendendo à criação de climas, com luz baixa e mistério.

A peça tende ao uso de uma linguagem poética, quase lírica, que em certos momentos recorre a regionalismos na fala, sem deixar a temática universal. Uma visão de mundo fantástico e o uso de metáforas que contribuem para a representação de um ideário de fragilidades e medos, até que um estrangeiro bate à porta e elas tem que lidar com a novidade, o desconhecido e o desejo. Há certa comicidade na relação entre as irmãs e em sua ingenuidade. Uma cozinha, outra costura e a outra comanda, perdendo o eixo por muito pouco; são a própria imagem da vulnerabilidade.

“Todas vestidas de Lua cheia”, as atrizes são responsáveis por um espetáculo vivo e significativo. Elas conseguem transcender a interpretação da letra fria do texto e criam personalidades complexas, em um relacionamento familiar prodigiosamente retratado. A música também é belamente inserida na história, sendo, contudo, um acompanhamento e uma sonoplastia; não há virtuosismos. É um espetáculo de real simplicidade, mas exatamente por isso torna-se atraente. Além disso, a primeira peça da Cia. Nina pretende de alguma forma dar materialidade às questões do universo feminino.

A caracterização e figurinos também são parte importante da cena e foram muito bem solucionados, visto que o uso de máscaras desconstruídas – dando a impressão de deformidade -, os vestidos elaborados e os utensílios (fios de tecer e panela) davam uma dimensão grotesca ao que na verdade era poesia.”

Vale à pena se perguntar se a fábula e os símbolos apresentados não seriam uma derivação de uma tradição de cultura oral presente no Nordeste brasileiro que foi adaptada à questão existencialista das “retirantes de todos os tempos”, como propõe a encenação. As memórias e sensações são passados ao público como um relato de personagens que já não se dominam mais. É muito rica a premissa da peça, levando o espectador a partilhar daqueles pavores.

Foto: Divulgação / Manuel Meira

Serviço
Teatro”Luas de Há Muito Sóis”
Temporada: de 20 de outubro a 20 de novembro de 2016
Horários: De quinta a domingo, às 20h
Ingressos: R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (funcionários e clientes do BB, estudante, sênior acima de 60 anos, professor, PNE e usuários dos convênios Cartão Metrô recarregável, SESC, clube de assinantes O Globo, PUC e Clasp, mediante apresentação de documento comprobatório).
Bilheteria: de quarta a segunda, de 9h às 21h
Vendas online: www.ingressorapido.com.br
Duração: 60min
Capacidade: 155 lugares / 3 espaços para cadeiras de portadores de necessidades especiais.
Classificação indicativa: 14 anos
Local: CCBB RJ – Teatro II (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro).

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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