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Axé – O canto do povo de um lugar, um documentário sobre histórias de um brasil muitas vezes desconhecidos

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Axé Axé, na língua Yorubá, significa poder, energia ou força presentes em cada ser ou em cada coisa. Dentro e fora do contexto religioso, axé é uma saudação utilizada para desejar votos de felicidade e boas energias.

De acordo com um recente estudo de várias universidades brasileiras, Salvador, a capital baiana, tem a maior ancestralidade africana do Brasil, a partir de estudos genéticos: 50,8%, sendo considerada a cidade mais negra fora do continente africano. E, apesar de o comércio escravo ter chegado a diversas cidades brasileiras, historiadores explicam que, em Salvador isso foi mais forte e contribui para a ebulição cultural permanente na cidade, presentes no sincretismo religioso, na culinária, na música.

Salvador é o grande berço do axé, e a origem é retraçada à muito antes do que temos ideia aqui no eixo Rio-São Paulo e os primeiros grandes sucessos foram eternizados ainda em 69 com “atrás do trio elétrico” de Caetano Veloso. E é impossível não pensar em alegria e energia ao pensarmos no ritmo, independente do seu gosto musical.

O documentário resgata a história do movimento, mas vai além, fala sobre a nossa origem. Sobre as histórias de um brasil muitas vezes desconhecidos para maioria dos brasileiros. Fala sobre quem muitas vezes esquecemos que somos. E ao tentar no início responder as perguntas sobre a origem do Axé, sobre sua paternidade, acaba falando sobre a necessidade de resgatar nossas origens e de valorizar nossa cultura, nossa ancestralidade.

O carnaval é o cenário e toda a singularidade das expressões individuais reverbera nas ruas. A individualidade e expressão da cultura negra efervescente que contagia e começa arrastando pequenas multidões com os Blocos Afros, muito antes de subir aos famosos trios de Dodo e Osmar. As fusões das bases do candomblé, com os ritmos latinos, de Gerônimo e aquele que é considerado o primeiro grande filho do Axé, Luis Caldas!

O axé é uma espécie de organismo vivo, e é impressionante perceber o quanto ele fluiu ao longo dos anos e foi se transformando de uma representação para outra, de um grupo pra outro. É curioso perceber como cada manifestação buscava elementos que a diferenciasse das anteriores o que naturalmente o levou para distante da origem e o distanciou da importância que tinha inicialmente como grito de afirmação do Negro Baiano, que uma vez perseguido e proibido de expressar na sua vida, nos cabelos, nas roupas, no estilo sua origem e suas raízes encontrou no Axé o espaço para através da música conquistar um lugar para afirmar a sua origem africana. Com gritos como “Sou negão!” e “Que bloco é esse?” do Ilê Aiyê que expandiram pela primeira vez a ideia da valorização do Negro e sua cultura e que ecoaram por todo o Brasil.

Mas a apropriação é velha conhecida do capitalismo e da “Branquitude” e aos poucos o carnaval de salvador ganhou ares comerciais, e o carnaval do povo na rua, deixou de fora a individualidade das manifestações espontâneas, da cultura negra, e deu lugar a grande indústria do carnaval de salvador, que contou com grandes mudanças a medida surgiram os blocos/trio de carnaval classe média. Mudanças no som, nas músicas, no formato, e uma transformação cada vez maior, que faz com que seja difícil delimitar o Axé à uma manifestação específica. Já que abraça desde sua origem tantos elementos diferentes.

Axé – O canto do povo de um lugar faz uma viagem no tempo à origem do movimento e passeia por todas essas transformações que ele sofreu ao longo de sua existência, até os dias de hoje, ressalta todos os mais importantes representantes do movimento ao longo dos anos, e ao que parece não deixa praticamente ninguém de fora, o que faz até com que o documentário deixe a sensação de talvez ser longo, mas ao mesmo tempo, é impossível pensar em deixar alguém de fora. É uma delícia passear por essa história â medida que somos reapresentados a muitas das músicas e grupos que fizeram parte da vida daqueles que eram crianças ou adolescentes nos anos 90. E, mais do que vê-los representados, conhecer sua origem e a sua importância.

O documentário é muito bem construído, e repleto de referências que nos fazem cantarolar com as canções que nos contagiaram e conquistaram não só o Brasil, mas o mundo ao longo dos anos, nos faz refletir sobre muitas coisas. Sobre a beleza e importância da nossa ancestralidade africana, por tanto tempo rejeitada; sobre a importância de conhecer e valorizar as diferentes expressões culturais do nosso país e reconhecer a importância dessas manifestações, independentemente do nosso gosto, reconhecer o valor do que produzimos; Sobre o capitalismo e como o toque do capital transforma aquilo em que toca;

E, principalmente, é sobre o canto de um povo de um lugar! E esse lugar não é a Bahia, não é salvador! Esse lugar é aqui! Somos eu e você, nosso país e nossa história.

Foto: reprodução trailer

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