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Passageiros, filme estrelado por Jennifer Lawrence e Chris Pratt, chega aos cinemas

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passageirosUma vida inteira sem um outro para nos validar existiria realmente? É, de fato, ser impossível ser feliz sozinho? O que é ser feliz e aquilo que precisamos para nos sentirmos completos e realizados são questionamentos que pra sempre perpassam a nossa existência.

O que faríamos caso acordássemos no espaço inteiramente sozinhos? Alguns dilemas sejam eles existenciais ou morais são difíceis de serem respondidos. O cinema muitas vezes nos ajuda a tentar responder certas questões, quando coloca personagens em situações que nos fazem questionar nossa própria postura. Jim, vivido por Chris Pratt, acorda a bordo da Starship Avalon, no meio de uma viagem espacial que deveria leva-lo para um outro planeta, “homestead2”, em processo de colonização.

O inferno é o outro? Ou será mesmo a solidão? Mais difícil do que lidar com o outro talvez seja lidar com aquele que nos olha através do espelho. Os dilemas apresentados em filmes de isolamento muito nos fazem refletir sobre o que faríamos estivéssemos nós naquelas situações. Sem o olhar do outro para nos reafirmar no “mundo” , talvez até nossa existência seja questionada em solidão.

Então, você acordou sozinho sem nenhuma possibilidade de contatar outras pessoas, e agora? Todo o drama envolvendo o isolamento espacial tem muito potencial, mas infelizmente o filme perde sua maior oportunidade de ser excelente no fim desse primeiro momento, talvez até antes, já que falta a Chris Pratt a intensidade e profundidade necessárias para mergulhar nessas questões e explorar os dramas envoltos nessa trama. O filme passeia por vários gêneros e à medida que o tempo passa outros personagens vão se juntando ao filme, dando rumos completamente diferentes do levantado inicialmente.

A chegada de Aurora, marca o fim do primeiro ato transformando o  drama em romance. O chamado “cinema pipoca” tem muita dificuldade de fugir dos clichés em se tratando de filmes românticos. Se há excelência em Passageiros é justamente nos níveis de cliché atingidos, já que podemos encontrar no desenvolvimento do relacionamento dos personagens praticamente todos os clichés possíveis de filmes de comédia romântica. Há uma tentativa de sugerir que Jim e Aurora, seriam um casal improvável pois pertencem à universos diferentes, sendo ele um trabalhador e ela uma mulher rica da alta classe. Mas esse conflito não existe nem por um segundo, já que a química entre Jennifer Lawrence e Chris Pratt é imediata e eles formam um desses lindos casais de capa de revista.

Há algumas questões envolvendo a aparência de Aurora que me parecem mais do que desnecessárias, em termos de ideais de beleza, e manutenção de certos estereótipos e padrões, que são altamente questionáveis. Há uma sintonia entre os dois que deixa o filme carismático em muitos momentos, mas mais uma vez, não há nada de novo. É um típico romance com cenas, frases e reações clichés pra Titanic nenhum botar defeito, no melhor estilo “ Você pula, eu pulo”. Mas com uma boa química e atuações satisfatórias o casal faz com que a experiência do filme seja agradável e que assistir o filme seja no fim um programa agradável.

Após seus momentos de drama e romance é anexado às definições o gênero de ação. As falhas de funcionamento que fazem alguns personagens acordarem não estão sozinhas e a nave inteira começa a entrar em colapso deixando para os nossos protagonistas a tarefa de salvar os 5000 passageiros e mais os muitos tripulantes da nave, todos em hibernação.

O design exterior da nave é muito interessante e de certa forma bastante crível. O interior apesar de possuir ares de shopping center e não acrescentar nenhum elemento que seja surpreendente ou mais interessante também acaba sendo bem crível até mesmo pela simplicidade, mas fora isso não há praticamente nada no que diz respeito à originalidade. O universo criado é bonito, mas não parece nada que já não tenhamos visto antes. O filme é repleto de referências interessantes, como o barman de O Iluminado, Gravidade, 2001-uma odisseia no espaço, os robozinhos da limpeza de Wall-E … são muitas referências, apesar de legais, acabam reforçando a sensação de que o filme não traz nada de novidade.

O que há de satisfatório em termos de realidade na criação do universo do filme falta no que diz respeito ao roteiro, já que muito não faz sentido. Nem mesmo a ideia inicial de uma nave inteiramente no piloto automático por 120 anos. Nem a premissa inicial é convincente. E, todo o desenrolar da ação e solução dos conflitos são muito mal construídos, e vai ficando cada vez mais difícil embarcar nas ideias e questões, à medida que o filme se aproxima do final. E a direção de Mortem Tyldum (O jogo da imitação) não consegue fazer muito pelo roteiro, que se tivesse recebido um tratamento diferenciado até mesmo em termos da sequência narrativa, já teria proporcionado ao filme uma proposta mais interessante.

O grande conflito do filme, ao meu ver, é o conflito ético de Chris Pratt, que merece um texto inteiro cheio de spoilers só para ele. Já que tem como seu grande mérito, e horror de quem está assistindo transformar em “gostável” uma situação que merecia ser execrada considerando a maneira que é abordada e todas as relações que podem ser feitas com ela. Em tempos de dissecar de forma mais complexa os significados das relações de poder entre gêneros o tratamento dado a essa passagem, merece no mínimo uma análise mais detalhada.

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