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“Para onde ir” – Uma homenagem à poesia crítica do poeta Bertold Brecht

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Yashar Zambuzzi, notado por seu trabalho em Wireless, Castigo Final e Vermelho Brasil estreou ontem, dia 7 de fevereiro, na recém reformada casa de cultura Laura Alvim, o espetáculo íntimo e contundente “Para Onde Ir”, dirigido por Viviani Rayes.

O texto apresentado propõe uma reflexão sobre o estado das coisas na vida de qualquer um. Diz-se “qualquer um precisa de ajuda”. E isso é uma verdade. Não somos ninguém sem o outro, sem alteridade, sem empatia. É necessário que mais uma vez nos unamos em torno dos aspectos da vida em sociedade para não perdermos a batalha para os percalços nossos de cada dia. Parece-nos que estamos desacreditados. Em tempos onde a migração passa a ser controlada, apesar das guerras e pobreza que tem sido flagrantes em alguns cantos do mundo, vale a pena ressaltar que ainda podemos nos revoltar com certas situações. Face à mensagem apresentada percebe-se que somos impotentes diante de certos fatos, mas que temos chances de superar nossas limitações, de alguma forma.

Há menção ao holocausto, menção à preponderância dos interesses mais vis. É uma pena que ainda precisemos falar sobre isso, mas as condições degradantes observadas por Fiodór na Rússia pré-revolucionária e por Berthold na Alemanha pré-nazista estão presentes neste trabalho único.

Condições indignas de existência. Aborto. Desemprego. Diferenciação entre miséria e pobreza, mas não é por isso que não é uma montagem que possa ser assistida. O empenho de Yashar Zambezzi, no auge da experiência de sua profissão, ou ofício, é invejável e deve-se dizer que há muito ainda a aproveitar-se no trabalho desse ator. O monólogo é uma espécie de provocação para sabermos até onde vai nossa resiliência. É necessário entender porém que não estamos falando de pessimismo, mas de um retrato daquilo que já foi real e que temos dificuldade para saber se hoje ainda é ou não é.

Destaca-se o solilóquio onde só o rosto é iluminado. Um rosto iluminado. Domínio impecável do texto. Preparo, coragem e humildade ao lidar com temática tão espinhosa como é o universo do escritor russo evocado.

A tradição da escrita russa de Dostoiévski foi transposta para o palco como uma homenagem à linguagem de Berthold Brecht – há quebra da quarta parede. A direção de Viviane Rayes deixa o ator à vontade em cena. É um espetáculo intimista, feito para poucos privilegiados e isso faz da relação ator-público fenômeno pelo qual sensibiliza-se o espectador através da narrativa de causos doloridos que perpassam a existência de algumas pessoas. O mundo é mau? O mundo é bom? Não se sabe, só se sabe que as coisas são como são.

Apesar de o imaginário suscitado não ser interessante de se contemplar, estamos falando de um ator que domina o ambiente com sua voz, consegue prender a atenção de todos e causa alguma reação. Alguns diriam que deveria haver maior otimismo para enfrentar questões como a decadência humana, sem deixar de dar alguma esperança ao ouvinte. E, em verdade, deve-se dizer que há, já que o ator estende a mão ao desconhecido, procura ajuda ao sentar-se ao lado do companheiro de bar. E alguém ajuda? Não é um espetáculo leve, pelo menos não o foi na primeira apresentação. Talvez com o tempo a plateia passe a interagir mais com os estímulos propostos por Yashar.

Perceba que o título não é uma pergunta, é uma afirmação. Não há ponto de interrogação. Pensar que vamos acabar na miséria? Não. Há valores que são mais importantes e que nos vão garantir a dignidade. Civilidade, Humanidade, Bondade, Beleza. Conceitos positivos. O espetáculo sugere que a vida é dura, mas de alguma forma ela também é prazerosa. É válida, é bonita.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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