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De novela à musical, “Vamp”, entretêm fãs e novos espectadores

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Na calada da noite preta, chega aos palcos do Rio Janeiro a adaptação teatral da novela de grande sucesso de 1991 escrita por Antônio Calmon. “Vamp”, o marco da teledramaturgia que conseguiu contornar com criatividade os tempos de efeitos especiais primitivos, foi o responsável por trazer o gênero do terror para os folhetins, e ao mesmo tempo brincar com esse gênero, não se levando à serio e trazendo entretenimento para toda família, mas que assombrava os espectadores mais jovens. E mesmo com mais de 20 anos, se tornou uma obra memorável, com personagens que se tornaram imortais, mesmo para quem não assistiu a novela na época de sua primeira exibição.

Chegou o momento de “Vamp” se tornar um marco não só para a televisão, mas também para os palcos do teatro como primeira novela à se tornar musical. Isso aconteceu graças as mãos da produtora Aventura Entretenimento, responsável pelos musicais de Elis, Chacrinha, e a frustrada tentativa de adaptar para o teatro a série de filmes “Se eu fosse você” com músicas de Rita Lee.

A escolha mais acertada de “Vamp” é ser um musical original, ou seja, a maior parte das canções foram feitas para o espetáculo, e outras que eram da trilha musical da novela como “Sympathy for the Devil”, e “Noite Preta”, permanecem.

Na tentativa de aflorar ainda mais o ar nostálgico da obra, temos os mesmos protagonistas. Ney Latorraca e Claudia Ohana retornam aos seus clássicos personagens e justificam os espetáculo.

Por mais que Ney não cante ou dance em cena, e dê apenas alguns passos tímidos. Se a produção tivesse ousado em escalar um novo elenco, e com a escolha de um ator que realmente dançasse e cantasse, seria interessante ver o que seria possível fazer com Vlad, e até com possíveis músicas originais que demonstrassem o tormento e paixão do personagem. Mas temos o grande Ney Latorraca à vontade e confortável em seu papel, mas aqui com uma leitura mais bonachona. Vlad nunca é visto aqui no espetáculo como uma figura realmente assustadora.

Já Claudia Ohana, que parece realmente ser uma vampira, já que pouco se nota envelhecimento, tem força em cena e é responsável por um dos melhores números musicais do espetáculo, a clássica tema de abertura “Noite Preta”, interpretada originalmente por Vange Leonel.

Infelizmente, um dos pontos mais problemáticos é a parte musical do espetáculo. As canções originais são desprovidas de energia, em geral são insossas e esquecíveis, nenhuma verdadeiramente marcante. E por outro lado as coreografias desses números por vezes são intricados, e outros momentos passam quase despercebidos. Destaque para o número de Thriller, que dão espaço para o elenco de apoio e corpo de baile com números de sapateado.

Talvez a escolha do número de Thriller para abertura do espetáculo e apresentação de Vlad, tivessem sido uma opção mais bem sucedida, já que como se espera de grandes musicais, a abertura não empolga, e a apresentação de seu personagem chave é um tanto rasa e sem brilho.

Mesmo que tenha números musicais problemáticos, são eles que ainda dão certa magia ao espetáculo, e inclusive, auxiliam a esconder os buracos e erros na narrativa.

A tentativa de condensar uma novela inteira em um pouco mais de 2 hs, e trazer quase todas tramas, gera uma enorme barriga com um número grande de personagens em cena e mal aproveitados, como é o caso do elenco infantil e da família Matoso.

Algumas cenas são abruptas e com explicações pífias na tentativa de levar a narrativa para frente. Curiosamente, um dos melhores personagens da trama é novo, criado para o espetáculo. A mãe de Vlad, a vampira portuguesa Mandrágora, traz vitalidade e graça em cena, além de trazer o melhor número musical original.

E por mais que o elenco que substitui o original não tenha a mesma força, como é o caso do Capitão Rocha, interpretado originalmente por Reginaldo Faria, temos a grata surpresa da personagem Miss Penn Taylor (um trocadilho que só funciona mesmo nas obras de Jorge Fernando), que foi interpretada originalmente pela excepcional Vera Holtz, e que aqui tem uma versão mais escrachada e engraçada pela brilhante Evelyn Castro. A jovem atriz que atualmente faz parte do elenco do Porta dos Fundos, já tinha mostrado seu talento interpretativo e musical no brilhante “Cassia Eller: O musical”, demonstra de vez ser um dos grandes novos nomes do teatro brasileiro, e com grande capacidade cômica.

Mas, infelizmente sua personagem que poderia ter maior importância em cena, é jogada ao descaso no terceiro ato ,e com conclusão rápida e boba. Na verdade o espetáculo em si tem uma conclusão inverossímil de tudo que foi apresentado. Diferente do final da novela, temos um outro, que até poderia funcionar, mas se dependesse de um desenvolvimento que o fizesse crédulo, o que não é o caso. Ao fim da peça fica um certo choque e espanto por seu encerramento um mínimo “surpreendente”, mas não no bom sentido.

Não se pode dizer que “Vamp” seja um grande espetáculo, e muito menos um bom musical, não é. É muito aquém a qualquer musical de fora, e até mesmo das brilhantes adaptações que o Brasil faz. Quem aprecia e ama musicais sairá decepcionado, mas já quem procura a novela em outro formato, deverá encontrar o que procura.

“Vamp: O musical” é um bom exemplo de que funciona sim adaptar obras televisivas para o teatro, mas com melhores canções e um texto mais bem acabado. Pretende animar aos fãs da obra original, e traduz com bastante nostalgia o que foi aquele sucesso dos anos 90. E nada disso teria a mesma graça e capacidade de falar ao coração do público se não fosse o incontestável talento de Ney Latorraca, que mesmo saindo de sua zona de conforto é capaz de brincar com a plateia e trazer um quê de metalinguagem naquela que é uma grande festa realizada por Jorge Fernando.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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