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“Ghost in Shell” reúne visual futurista com elementos tradicionais nipônicos

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Foi no longínquo ano de 1995 que a clássica animação “Ghost in The Shell” chegou ao Brasil diretamente para o VHS. O enredo em questão trazia a história da robô major Mokoto Kusanagi que aos poucos vai adquirindo consciência própria.

Chegado então o ano de 2017, eis que uma versão live-action (com atores) vê a luz do dia pelas mãos do diretor Rupert Sanders (“Branca de neve e o caçador”) e protagonizado por Scarlett Johanson. Essa nova versão traria a major Motoko Kusanagi na busca de um cybertorrista (Michael Pitt) que deseja eliminar todos os indivíduos ligados a empresa responsável pela criação da própria Motoko.

Antes de mais nada é importante dizer, “Ghost in The Shell” é visualmente perfeito. Tendo alcançado um raro equilíbrio entre efeitos especiais de primeira linha, fotografia contida e figurinos que misturam um visual futurista com elementos tradicionais nipônicos. A começar pela ambientação de um Japão futurista, vibrante e colorido. Hologramas de produtos interagem de maneira orgânica com os arranha céus, em um raro trabalho de ambientação criada de CGI mas que passa naturalidade pratica. O estilo de automóveis também chamam atenção por não serem os famosos carros voadores e ainda terem um modelo um tanto retrô. Todo esse mundo tomado pelas propagandas encontra bases em Blade Runner.

Efeitos práticos também dão as caras como uma espécie de complemento aos figurinos com óculos que cobrem a cabeça dos transeuntes nas ruas, ou nas próteses que simulam rostos dos ciborgues. A própria cena em que a protagonista simula a famosa abertura da animação, aonde ela aos poucos é montada, remete ao recente sucesso televisivo “ Westworld” , aonde é mostrado a criação de um ser “ humano” de maneira banal, e Sanders consegue conduzir essa cena com enorme classe ao mostrar o passo a passo, ou os restos de tecido não usado voando em espiral ao redor do corpo, como em uma dança.

Ainda na parte técnica, a trilha sonora deixa a desejar principalmente quando os compositores Clint Mansell e Lorne Balfe não se propuseram a utilizar a brilhante trilha criada anteriormente por Kenji Kawai. Ao invés disso seus trabalhos autorais sofrem de uma terrível timidez e de tons muito clichês, como usar o já manjado coro de violinos em um determinado momento de confronto.

Scarlett Johansson plays The Major in Ghost in the Shell from Paramount Pictures and DreamWorks Pictures in theaters March 31, 2017.

O elenco em sua maioria é formado por atores pouco conhecidos do publico, portanto era de se esperar que a grande estrela, Scarlett Johanson, puxasse a produção. O problema é que a atriz aparenta estar pouco a vontade no personagem durante todo o filme. Os momentos, e não são poucos, em que o diretor foca a câmera em seu rosto dão enfase aos seus olhos ficam vagando de um lado para o outro sem expressividade, sua respiração acelerada soa forçada e seu rosto, ela optou por não criar alguma característica original para a personagem e basicamente recicla sua atuação em “Lucy”.

Na contramão, Johan Philip Asbæk se mostra mais confortável na pele do também ciborgue, Batou. Assim como na versão original ele se sente mais confortável na sua situação do que a protagonista, seu timming cômico funciona e por já conhecer sua colega de trabalho, Johan passa naturalidade em suas cenas com Scarlett. Takeshi Kitanno também aproveita o pouco tempo de tela para construir o chefe da Sessão 9 como alguém experiente na profissão, mesmo que ele acabe soltando um provérbio em determinado momento para soar como uma frase de efeito.

Sobre o roteiro, impressão passada foi de que o trio de roteiristas se acovardou ao não passar toda a complexidade do anime/mangá no que concerne à reflexão do conceito de “humano”, visto do ponto de vista de uma maquina para o filme. De fato, ambas as mídias são diferentes mas isso não serve de desculpa para empobrecer um produto que poderia fazer o publico, ou parte dele, refletir sobre o assunto. A começar pela construção da protagonista que difere do que foi proposto nas outras mídias, aqui parece que a criação da Motoko foi bolada para criar um sentimento de proximidade com o publico de maneira bem clichê.

O conceito por trás do vilão também foi muito diluído, o que era para ser originalmente um vírus que adquire auto-consciência, assim como a própria Motoko, ao aprender com os seus atos, deu lugar a um individuo com um background raso, uma ligação pior ainda com a protagonista e com um problema de voz que faz ele parecer que é gago.

Já na parte de ser critico, o roteiro até engrena uma linha de pensamento nos primeiros momentos da produção, principalmente sobre a temática do homem continuar sendo quem é mesmo estando praticamente fundido ao novo mundo cibernético. Entretanto no decorrer da trama ele deixa de lado essa linha e segue a da ação frenética e desenvolvimentos emotivos toscos, como o da jornada da protagonista em descobrir quem é ou do vilão que tem seus motivos e etc.

Por fim, “Ghost in the Shell” é simplesmente entretenimento em sua forma mais pura. Munido de uma estrela no papel de protagonista, cenas de ação bem filmadas e um visual deslumbrante é bem provável que ele seja bem aceito. O diretor Rupert Sanders consegue passar a que ele de fato conhece um pouco da obra original mas que sua preferência foi se afastar da animação/mangá e imprimir seu estilo próprio, algo próximo do que ele fez com “Branca de neve e o caçador”. O problema de tudo se encontra na falta de interesse daquela que é o grande chamariz do filme e, ainda mais profundo, no roteiro que aqui escolhe o caminho mais fácil para ser melhor digerido pelo grande publico e em contrapartida sacrifica o que poderia ser algo diferente no gênero.

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