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Uma metáfora intensamente inspirada nos trabalhos de Wes Anderson

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Você se lembra da última vez que brincou de pique-pega? Do último brinquedo que guardou em uma gaveta? Da sua infância e de como se despediu dela? Crescer não é fácil, e dizer adeus a tudo que ser criança representa, muito menos. Greta se sente exatamente assim. Ela está prestes a fazer 15 anos, e não quer abandonar seu passado. Em “O Sonho de Greta” a família da garota se muda e ela entra em uma nova escola. Apesar de não querer, seus pais a dão uma festa de aniversário e convidam todos de seu colégio para comemorar. Durante as festividades, Greta é levada para o mundo fantasioso que mora dentro de sua caixa de música, e agora ela não terá escolha senão crescer.

Nessa nova escola, Greta (Bethany Whitmore) logo faz amizade com um menino chamado Elliot (Harrison Feldman), mas as garotas populares da escola desaprovam dessa amizade. Enquanto seu pai Conrad (Matthew Whittet) ainda a enxerga como uma frágil menininha e quer mantê-la dessa forma, a mãe Janet (Amber McMahon) quer que ela tenha um futuro melhor do que ela mesma escolheu. Já a irmã mais velha Genevive (Imogen Archer) se tornou uma jovem adulta rebelde, mas que dá bons conselhos à protagonista quando cumpre seu papel fraterno. Com estreia marcada para o dia 20 de abril, o filme australiano de direção de Rosemary Myers é intensamente inspirado nos trabalhos de Wes Anderson.

É impossível não notar as referências que Rosemary teve como “O Grande Hotel Budapeste” e “O Fantástico Senhor Raposo”. Uma dessas homenagens fica clara com o uso da paleta de  cores. Wes Anderson é conhecido por utilizar cores fortes e específicas em suas obras, Rosemary segue a mesma linha e procura brincar com essa intenção de demonstrar vivacidade pelas cores que escolhe, por exemplo, para as criaturas que moram na caixa de música, o uniforme das crianças, do quarto de Greta e dos objetos que o completam.

Outro elemento que constrói a narrativa e dá um tom Wes Anderson na produção é a nostalgia criada e relembrada pela família. Na casa de Greta há uma foto sua criança acima de uma das portas, e mesmo que o primeiro a notar em voz alta o elemento seja Elliot, a construção do cenário faz os olhos rodearem as fotos antigas com a mesma ternura que os pais. Além disso, a aproximação do personagem com o público com o uso da câmera e da edição em conjunto, combina com as preocupações da protagonista e mexem com as emoções do público, principalmente quando é adicionada a trilha sonora dramática aos momentos de maior ansiedade de Greta.

As transições temporais foram inteligentemente introduzidas na trama por meio de cartões intitulados com as passagens de tempo. Contudo, o que é mais curioso sobre isso é a localização desses cartões que vão desde uma bola de basquete, até um balde de frango frito. Mais um momento artístico e metafórico da narrativa é a passagem da garota no mundo interior a caixa de música. Ela possuía a caixa desde criança e a guardava em seu quarto até que, no meio de sua festa, acorda rodeada pelas criaturas que imaginava que viviam lá dentro. É nesse momento que ela terá que vencer seus medos e admitir para si mesma e o mundo, que não é mais uma delicada menina de 14 anos.

O visual do terceiro ato (dentro da caixa de música) é estranho aos olhos de um público acostumado com as tecnologias do século XXI e causa estranhamento, contudo quando se leva em consideração que faz parte da imaginação de uma jovem e que tudo não se passa de uma longa metáfora, é perdoável. Além disso, a cena em que os convidados começam a chegar na festa é extremamente bem-feita e divertida, merecendo destaque pelo talento dos atores que aparecem tão pouco durante o filme, mas que quando o fazem, são certeiros.

Se “Alice no País das Maravilhas” e “O Labirinto do Fauno tivessem um filho”, seria “O Sonho de Greta”. Greta tem medo do que a adolescência representa e irá trazer, mas aos poucos se rende aos novos movimentos da dança da vida e ensina a aceitar a si próprio e seu passado. O filme é como um musical sem músicas ou cantorias espontâneas, que rende análises profundas de seu teor metafórico e, ainda fala em nível pessoal para quem está atingindo idades marcantes e é dramático demais sobre os novos números.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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