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A temática satírica de Gogol em O “Inspetor Geral” no Glauce Rocha

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O texto de Nikolai Gogol, escrito em 1836, montado pela Damões Cia de Teatro foi trazido aos palcos brasileiros por muitos ao longo do tempo, incluindo por Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, no grande Teatro Oficina.

 O “Inspetor Geral” traz uma concepção coerente com a a história original, sem inventar muito – apesar de adaptar a trama aos campos semânticos dos brasileiros. Cada personagem gozava de apelo em relação ao público e foi defendido com sucesso por seus intérpretes. A história, que parece repetir-se na vida real em cada lugarejo e até nas grandes cidades mundo afora, traz elementos que muito têm a dizer sobre a realidade de depreciação política e moral de um sistema inerentemente corrupto. Tudo com muito humor.

Por meio da leveza, da paródia e do escárnio, a peça nos enlaça no ambiente daquela cidadezinha russa onde o prefeito, centro do poder local, se vê ameaçado pela chegada de um suposto inspetor, vindo da capital Moscou a mando do próprio czar. Somos levados a questionar as estruturas de poder ali muito bem retratadas. E, a própria tendência das pessoas de levar vantagem em tudo é colocada sob os holofotes, nas figuras do paspalhão Klestakov e seu criado.

Há romance, há drama, há comédia. É uma peça completa, em um subgênero de comédia de costumes da Rússia pré-revolucionária, que ensina muito. Foi também objeto de aclamada montagem por Vsevolod Meyerhold em 1926. Estamos falando, porém, da visão da diretora Eliza Pragana: ela adapta o texto com muita eficiência e seu gosto cênico está a altura das grandes encenações. Tons satíricos e farsescos são amplamente explorados.

Há destaques no elenco, com algumas interpretações mesmerizantes, mas há que se deixar para você, espectador, tirar suas próprias conclusões. Repetindo: trata-se de uma peça muito especial, perfeita para o momento cívico de nosso país e você não deveria perder.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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