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Susceptibilidade, introspecção e melancolia em “Más notícias para o Sr. Mars”

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Dirigido e escrito por Dominik Moll, Más notícias para o Sr. Mars trás a criação eficaz de um clima no qual, depois de um primeiro evento desastroso, tudo leva a crer que os atos conseguintes, de todas as personagens, levarão a uma catástrofe. É bem sucedida a estratégia do roteirista de associar um comportamento pacato à negligência quanto a sinais e fatos que, em outra pessoa, levariam a um alerta ou ao pânico.

Por momentos, parece descortinar-se o universo de uma personagem em que prevalece a incapacidade para discernir o que lhe é bom ou mau, o que representa perigo e o que é aceitável, razoável. Há certa inocência e grande passividade na personalidade animada por François Damiens, que, parece, chega a fazer opções mais aceitando o que lhe é imposto do que impondo sua vontade. É aí que ele explode. Contudo, sua disposição para ajudar o próximo demonstra ser a principal verve desta personagem, e, esta sim, determina suas ações.

Certa introspecção e melancolia são exaladas pelo ficcional Philippe Mars, que é pai, irmão, filho, amigo e bom cidadão. Mas estes dois estados mentais diminuiriam a descrição fiel do Sr. Mars. Como se nota, os principais espectros daquele indivíduo são abordados pela trama, sem, entretanto, esgotar as inúmeras possibilidades que explicariam a postura daquele homem em relação à vida.

François Damiens ganha destaque com este filme e sua atuação econômica e concentrada lhe rendem bons pontos. Ele leva o espectador a inquietar-se com tamanha demonstração de mansidão e desatenção, conforme os pequenos e grandes obstáculos são postos no caminho. É aquela sensaçãosinha do “eu nunca faria isso…”, ou do “por aí não, por aí não!”, ou ainda o “nunca se deve fazer isso…”. Enfim, os problemas com as susceptibilidades dos filhos, e com o surtante colega por ele albergado, parecem resolver-se com um passe de mágica. Depois, é claro, de muito suspense e expectativa na poltrona do cinema.

O surtante colega é, por sua vez, o resultado de um excepcional trabalho do ator Vincent Macaigne, que nos leva da ira, da repulsa, à pena e, por fim, à fofura. Todo o elenco está muito bem. Todos servem bem ao propósito de monstrar o quão díspares e contraditórias podem ser as atitudes de um só homem, em um período não muito longo de tempo.

A trilha sonora é excelente no sentido de conduzir o espectador pela trama. Todos os outros elementos como fotografia, arte, e tudo mais, são impecáveis e juntam o melhor do cinema contemplativo francês com a alta técnica do circuito internacional.

Ah! Vale dizer que as inserções de interlocutores diretos, que suspendem a sucessão de fatos e dialogam com o próprio protagonista – como o astronauta e os seus pais -, conferem, em termos de linguagem, a pitada final de um roteiro que é simples, mas muito complexo. Pode isso?? O diretor, Dominik Moll, responde também pelos filmes “With a Friend like Harry” (2000) e “O Monge” (2011).

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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