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Um mergulho sobre a mente de um assassino de aluguel em “Comeback”

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Se você acha que filmes de faroeste sempre serão caubóis, revólveres e cidades quase inabitadas, repense seus conceitos. Em “Comeback”, o filme de faroeste brasileiro, Amador é um ex-pistoleiro já aposentado e aparentemente frágil, mas com apenas um desejo em mente: voltar a ser reconhecido em sua região. Além de ser a estreia do diretor Erico Rassi, o longa ainda consagrou para Nelson Xavier, protagonista desta produção, o prêmio de melhor ator na Première Brasil do Festival do Rio 2016. A jornada de Amador fala sobre introspecção e honra, num filme que reivindica o prestígio do cinema brasileiro, por meio de uma obra que foge do clichê.

Neste western ambientado no centro-oeste brasileiro, Amador (Nelson Xavier) foi reduzido a um senhor que aceita ordens de seu chefe. Em sua vida solitária, ele transporta caça-níqueis e negocia com donos de estabelecimento para coloca-los no lugar. Ele usa um chapéu e carrega uma arma, mas está longe de ser um caubói como os de filmes norte-americanos. Certo dia, o neto de um amigo o pede que ensine tudo que ele sabe sobre ser um pistoleiro. Amador mostra ao rapaz um álbum em que guarda recortes de jornais dos assassinatos que cometeu. O herói procura não demonstrar, mas fica claro que essa quebra de rotina o deixa animado com a chance de voltar aos seus bons e velhos tempos.

Um dos elementos mais interessantes sobre a obra é a clara divisão em três atos. A narração é ritmada conforme a vida que Amador viveu desde a aposentadoria: de forma lenta e monótona. Ao longo do filme, o ritmo vai acelerando sem que o público note. Tudo muda para o protagonista quando o neto desse velho amigo descobre que nem todas as notícias dentro do precioso álbum de assassino aposentado são verdades. Além de ter decepcionado a única pessoa que sempre acreditou nele, Amador é convidado a participar de um filme documentário sobre pistoleiros, e os diretores também não estão convencidos de que os tempos dourados que Amador descreve foram manchados por algum sangue que ele derramou.

Motivado a mudar essa nova reputação que ganhou, o protagonista então decide que a solução é verdadeiramente fazer um comeback, parando de pedir favores com educação, e matando qualquer um que entre em seu caminho. Assim o terceiro ato é coroado com a mudança de postura do personagem, uma reconquista de sua confiança e oportunidades de mostrar a sua cidade que uma velha ameaça ainda paira pelo ar.

O mergulho sobre a mente de um assassino de aluguel é brilhantemente desenvolvido pela maestria de Erico Rassi, sendo inclusive, difícil apontar que esta é sua primeira obra na posição de diretor. Além disso, maior parte dos atores são reconhecidos por trabalhos mais cult, e por isso garantem atuações de alto nível. É possível notar também o paralelismo entre cenas que são apresentadas ao público, e cenas que são insinuadas aos mesmos, como exemplo é possível citar o modo como Amador guarda um caça-níquel na mala e o arrasta como um corpo, ou ainda o momento em que quase dança com uma máquina para fazê-la entrar no carro, mas debate com um colega a necessidade de acharem um baile em que dancem com outras senhoras para se darem bem.

A injustiça sentida pelo protagonista é uma dor humana, e o diretor sabe explorar isso muito bem. Esses sentimentos crus, acentuados por zooms dramáticos, são entregados de forma inteligente para que o próprio público possa analisar a situação. Fica claro que o filme mereceu os prêmios que ganhou e assim como Amador, restaurou um pouco da honra e reputação que os filmes brasileiros tanto precisavam.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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