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Vocalista Badauí, do CPM 22, fala sobre o novo álbum, “Suor e Sacrifício”

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CPM 22Com 22 anos de carreira, a banda paulistana de rock CPM 22, possui um invejável currículo. São seis discos de estúdio, três trabalhos ao vivo, incluindo um acústico e uma grande apresentação no palco principal do festival Rock In Rio em 2015. Além dos diversos prêmios conquistados ao longo dos anos, sendo o principal deles o Grammy Latino em 2008, na categoria Melhor álbum de Rock Brasileiro. Sem dúvidas o CPM 22 é uma das grandes bandas do rock nacional e agora eles se preparam para voltar a estrada com a turnê do disco “Suor e Sacrifício”, primeiro trabalho de inéditas em 6 anos e que irá marcar a volta da banda a ser um quinteto, com a entrada do guitarrista Phil Fargnoli (ex-Dead Fish), além de contar com o retorno do baixista Fernando Sanches.

O disco novo, “Suor e Sacrifício”, marca uma espécie de retorno às raízes do CPM 22, apresentando um som puramente hardcore, com músicas rápidas, guitarras distorcidas e melodias marcantes.

Pra vocês esse deve ser um momento bem empolgante, pois já fazem seis anos do lançamento de “Depois de Um Longo Inverno”, como está à empolgação de voltar à estrada apresentando um material inédito?

Badauí – Demais né cara, ainda mais quando chegamos ao resultado que a gente queria com o disco. A gente gostou muito de como ficou as melodias, as letras, a pegada, os timbres, foi um disco que a gente chegou perto do resultado que a gente queria. E isso é legal porque sempre da um oxigênio que a gente lança um novo disco. Nesse tempo nós lançamos o disco ao vivo no Rock in Rio, o acústico e a coletânea, até deu pra dar uma preenchida nesses seis anos, mas não supre a mesma coisa que um disco de inéditas.

Deve ser revigorante para a banda?

Sim, a gente tava querendo já, pois querendo ou não o acústico e o ao vivo são releituras, é bem legal, mas são músicas que tocamos há muito tempo. Mas um disco novo com essa sonoridade, com essa pegada e com essa verdade foi muito legal pra gente. E agora bora fazer os shows, né.

Com um repertório com tantos sucessos, como equilibrar as músicas antigas com as novas?

Badauí – Nós tocamos muitas músicas no show, por volta de 25. Como é uma atrás da outra da pra fazer isso em uma hora e meia. Então da pra ir cortando uma e ir colocando outra, mas a gente não ta nem colocando metade do disco novo no show e nem acho que deve ser isso. Acho que a estética do show deve ser em cima da arte do disco, ir mesclando tudo. E a ideia é ir trocando, né, entrando uma e saindo outra, colocando uns lados B dos discos antigos também que a galera sempre gosta de escutar.

As letras do CPM 22 sempre foram um dos principais fatores de identificação do público com a banda. Vocês sentem que as letras de “Suor e Sacrifício” conversam de forma diferente com o agora mais maduro público que acompanha a banda?

Nossa eu acho que completamente cara, porque a gente fala de coisas que todo mundo da banda passou, coisa desagradáveis sabe, três caras da banda se separaram e eu perdi meu pai, ainda tem a situação do país sabe, a maneira que o povo vem sido tratado. Isso tudo reflete no disco diretamente, isso tá muito aflorado no sentimento das pessoas. E a gente tá nesse disco com uma forma diferente de escrever ou talvez uma forma diferente de dizer o que a gente quer, mas continua sendo a mesma verdade. A gente escreve só o que a gente já vive, a nossa verdade, o nosso sentimento, sempre foi assim, até agora nas letras mais políticas. E a molecada ta interessada e antenada nisso (situação política) eles estão se identificando, a gente sempre falou desses assuntos só que de outra forma. Se você pegar as músicas “Desconfio” e “Atordoado”, já eram músicas assim mas que não eram explicitas. Só que agora estava tão engasgado na garganta esse tipo de coisa que acabam vindo músicas como “A Esperança Não Morreu”, “Linha de Frente” e “Todos Por 1” que tem até a parte do hino, nós somos patriotas pra caralho, eu amo o meu país e é uma merda ver ele assim. Da uma sensação de alivio fazer essas músicas.

CPM 22Desde o álbum “Cidade Cinza” de 2007 que a banda não gravava um disco com duas guitarras, como a entrada do Phil influenciou no som da banda e como foi ter o Fernandinho de volta o CPM 22?

Badauí – É legal você perguntar isso porque eu falei isso em várias entrevistas, mas não é porque perguntaram, mas porque eu falei quando questionada a sonoridade do disco. Sobre os riffs e os solos principalmente, por que não importa com quantas guitarras vocês grava no disco a gente tem que se preocupar em como reproduzir isso ao vivo com qualidade. Não adianta fazer um monte de arranjo e depois ficar cru sabe, e depois do “Depois de Um Longo Inverno” a gente teve esse cuidado. E foi muito bom ter o Phil porque ele é puta guitarrista que tem a mesma identidade da gente e já ta na estrada a muitos anos, sabe como lidar com esse tipo de som e público, então foi muito bom ele vir com essa bagagem. E a volta do Fê foi foda porque ele já conhecia a gente, ele saiu da banda porque precisou cuida da sua família, só isso. Não foi por motivos de briga ou qualquer coisa do tipo e fora que ele sempre teve presente na banda na parte de produção. E isso refletiu no disco sabe, com o Phil a gente conseguiu explorar uns solos mais técnicos bem na linha do hardcore mesmo e isso da uma diferença brutal mesmo dentro da nossa identidade.

22O comentário geral agora que o disco saiu foi que estava mais parecido com o som que a banda fazia no começo da carreira, foi essa a intenção de vocês?

Badauí – Cara eu não vejo semelhança nenhuma na verdade, eu tenho escutado muito isso e to achando legal isso porque é sempre interessante ter uma referencia as suas origens. Mas pensando nisso os temas das letras e a forma de escrever está completamente diferente do que era antes, mas não sei talvez seja por que as músicas estão rápidas. Porque se pegar como referencias os discos “Felicidade Instantânea” e o “Cidade Cinza”, a gente ter baixado a afinação, ter gravado com um tom abaixo, querendo ou não da uma diferença. Mas esse é um disco genuinamente punk rock como os outros eram também, mas claro com uma sonoridade, mais fiel do que a gente ouve diferente de outras épocas. É difícil de explicar porque quando tem uma conexão entre um trabalho de 20 anos atrás com um de agora uma volta as origens pode se dizer, isso envolve muito o clima, os timbres é uma junção de coisas que faz remeter ao passado. Mas eu acho legal isso cara porque cria um saudosismo, um sentimento gostoso entre nós dentro da banda.

22E como foi realizar essa parceria com o vocalista Trever Keith no disco novo, sendo a banda Face To Face uma grande influencia para o CPM 22?

Badauí – Cara aconteceu meio naturalmente, eu não liguei pra ele pra pedir. Em 2008 nós tocamos um cover deles no Festival Planeta Atlântida e esse vídeo chegou até eles, que acharam incrível uma banda do Brasil tocando a música deles para aquela quantidade de público. E quando eles vieram tocar aqui rolou um contato nos bastidores e nós trocamos email, ele é um cara super gente fina e que gosta do Brasil pra caramba. E fomos assim criando esse contato sempre que eles vinham tocar aqui até que rolou o convite pra ele participar do DVD do acústico, mas teve um empecilho e acabou não rolando. Mas dali já rolou o convite para participar de um futuro disco novo e como as nossas conversas já estavam próximas ele disse pra mandar uma base que ele criava a letra.

Então foi algo que fluiu naturalmente e isso fica evidente pra quem escuta a música porque a sintonia de vocês ficou perfeita?

Badauí – Sim a música ficou foda demais né, parece às músicas dos primeiros discos do Face to Face. E eu até falo inglês, mas não domino, o Japinha e o Fernandinho dominam bem mais e me ajudaram com isso, eu tentei dar uma atenção especial com a pronúncia pra ficar bem próximo do jeito que eles cantam.

Você comentou do Rock In Rio e vocês tocaram lá em 2015 no palco principal do festival e o público foi ao delírio. Como foi a experiência desse show e qual o impacto que ele causou dentro da banda?

Badauí – Cara foi tipo como ganhar o Grammy, foi carimbar um selo de qualidade sabe. Muda muito porque tocar no Rock In Rio pra um público mais eclético mesmo, que vê a banda é tipo um “cara agora sim”. Porque é um festival antigo e de qualidade que já recebeu muitas bandas grandes e o palco principal é almejado até por muitas bandas gringas sabe. E ter aquela recepção do público, de abraçar a gente quase que como um patrimônio nacional é do caralho. Tanto que o DVD partiu por parte deles, pois é reflexo de como o show foi bem recebido pela galera. Até porque Rock in Rio é Rock In Rio né, é um festival conhecido no mundo inteiro e que teve um reflexo bem positivo, é uma graduação na carreira importante para a banda. São momentos que daqui a 30 anos as pessoas vão lembrar na história da banda

Pra finalizar, estamos em um momento delicado na cena do rock nacional, não temos mais tantas bandas no mainstream como tínhamos até meados de 2008. Mas mesmo assim nós temos várias bandas novas surgindo no underground, vocês acreditam que mesmo no atual momento da indústria fonográfica no Brasil, o rock nacional ainda consegue reconquistar o espaço que ele tinha?

Badauí – O nome do disco é um pouco por causa disso. Eu acho que ele consegue por que nesse momento delicado político e econômico que o Brasil ta passando, quem vai falar sobre isso são as bandas de rock, só elas ou os grupos de rap e reggae vão ter coragem de falar sobre isso. Eu acho que também precisa existir um bom senso de muita gente, talvez se uma parte da verba for direcionada a esse segmento, alguém deixar de ganhar uns milhões e investir em algo que vá trazer um know-how pra gravadora, rádios e televisão. Chegar em um programa popular e colocar uma banda com um discurso político, que vá lá para instruir as pessoas e levantar um ponto de vista, mesmo com pontos de vistas diferentes mas levantando um debate sabe, é importante ter artistas que não fogem da pergunta. Claro que é muito mais rentável colocar algo popular, mas eu ainda acredito no bom senso, na importância de colocar um artista que posso ter um impacto positivo na vida do jovem. Eu acho que pro rock ficar grande é necessário a mídia abrir a cabeça de novo, por que se você ver quando nós saímos da ditadura a mídia e os artistas conquistaram uma liberdade nunca antes vista e de repente 30 anos depois você acaba andando pra trás culturalmente. Com uma mídia mais careta e artistas com mais medo de falar a verdade, é estranho esse fenômeno. Quando a gente poderia estar andando pra frente parece que cada vez mais vamos andando pra trás. E isso não é só no Rock não, se você for ver a MPB está passando pela mesma coisa. Os artistas “alternativos” como Lenine e Zé Ramalho que não vivem a margem dessa indústria milionária, fazem seu show e tem o seu público fiel, mas não tem aquele apelo da massa sabe. Mas esse público fiel é que acaba sendo o mais importante porque é ele que vai te manter vivo para sempre, mas você sendo um artista que está na estrada há muito tempo você precisa da fatia da massa pra conquistar suas coisas. Mas ninguém quer mexer no bolso né, aí vira um ciclo que quem se fode é a cultura.

*entrevista feita por telefone

Renato Maciel
Renato Maciel
Carioca e tijucano, viciado em filmes, séries e tudo envolvendo cultura pop, roteirista e estudante de cinema, podcaster no Ratos de Cinema

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