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“Kiki, os segredos do desejo” e o afloramento do sexo nas relações

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O diretor Paco León dirige um elenco de intrépidos e desinibidos atores que são responsáveis por dar ânimo a cinco histórias muito loucas. Cenas entrecortadas de plots simultâneos, aparentemente desconexos, são a linguagem escolhida. A sequência das cenas, em muitos momentos sugere antíteses, como passar de um ambiente erótico, sadomasoquista para um funeral em uma igreja.

Cada pequena trama conta com muito humor para lidar com o afloramento do sexo em cada tipo de relação. Essa é a linha mestra, temática que conduz e faz comunicarem-se todas as histórias ali contadas: o sexo. A libido explorada nas suas mais diversas expressões, cores e situações. As cinco narrativas, que se entrelaçam e passeiam pelas perversões e fetiches do homem, têm a pretensão de mostrar qual afinal é a força motriz do nosso universo, a sexualidade que está em tudo a nossa volta.

Recomenda-se desnudar-se de preconceitos e encarar o filme como um panorama bem pintado do sexo nas sociedades contemporâneas, em especial depois da revolução sexual começada no século passado. É necessário permitir-se, viver intensamente e não julgar as alegorias que são representadas neste produto audiovisual.

Em Kiki, as pequenas mortes orgásticas de cada dia são colocadas como o meio mais delicioso de saudar e despedir-se da vida, seja na sua potência, seja no seu esvaimento. A noção de que o homem se relaciona com os seus pares e com o ambiente ao redor de forma prazerosa, extasiante, rende verdadeira revelação para quem por algum minuto pensar que a nossa existência está fadada à monotonia.

O objeto do filme são as taras dos indivíduos, tratando, contudo, de forma descontraída, de dessacralizar e debater as diversas manifestações do amor que as pessoas têm para dar. Paixão e desejo são as características da Madri retratada por Paco León; uma cidade vibrante e excitante. Cada estado de luxúrias das personagens é classificado cientificamente, como por exemplo a hifefilia e a harpaxofilia – descubra o que são.

Pode-se dizer que o nome do filme perdeu um pouco em relação a tradução do original espanhol “Kiki, el amor se hace”, no qual a tônica do filme está realmente sintetizada – o amor não se fala, não se analisa, não se pensa, se faz. Essa é a única ressalva. O filme em espanhol merece curtida. A cinematografia é floral, primaveril, com um colorido suave e muitas tomadas exuberantes, tanto de pessoas em poses bastante opulentas, quanto de natureza quase morta. É sensorial e é divertido.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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