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“Bingo – O Rei das Manhãs” promove uma viagem no tempo

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“Algumas pessoas são formiga, outras são cigarras. Nós somos mariposas”.

A busca pela luz, pelo palco, pela fama. A força que atrai é a mesma que queima e muitas vezes derrota a mariposa, o artista.

A busca pelo sucesso e pelo reconhecimento, a jornada do artista para estar sob os holofotes, são processos difíceis e muitas vezes cruéis. O aplauso e o reconhecimento são molas propulsoras que movem o artista e a constante busca por seu lugar ao sol.

Filho de uma famosa vedete e jurada, Marta Mendes (Ana Lúcia Torres), Augusto Mendes tenta seguir os passos da mãe, como artista, e está na busca pelo seu momento. Acostumado a papéis em pornochanchadas, ele quer mais. Quer novelas, quer o horário nobre, quer poder ser visto pelo filho Gabriel (Cauã Martins), com quem tem uma relação próxima.

Após ser rejeitado pela TV Mundial, a número 1 de audiência na época. Augusto vai fazer um teste para o protagonista de uma novela na TVP. O ator era o típico charmoso, conquistador, confiante e engraçado, cheio de carisma. Ao ver a oportunidade para fazer o teste para o palhaço que ficaria no ar 4 horas todas as manhãs, ele não pensou duas vezes e com muita sagacidade acaba conseguindo o papel que, definitivamente ia mudar sua vida, e até mesmo alguns dos rumos da televisão.

O filme começa leve, com boas pitadas de comicidade nos apresentando o personagem no auge da sua criatividade com muita acidez no humor, e na inventividade para dar forma ao palhaço. À medida que Bingo vai crescendo e ocupando cada vez mais espaço na vida de Augusto, a carga dramática vai se intensificando.

“Palhaço não obedece, se mandarem você abaixar, você levanta”. A desconstrução do galã para dar espaço ao palhaço vêm de elementos cruciais para o sucesso do personagem, que trouxe uma abordagem diferente aos programas infantis na época.

Vladimir Brichta é o Bingo. É o Bozo. É Augusto Mendes. É Arlindo Barreto. A entrega do ator ao personagem é nítida e por debaixo da máscara do palhaço há muitas nuances e muitas camadas, todas muito bem trabalhadas. Uma refrescante lembrança de que uma pessoa  pode ser muitas. O pai, o filho, o conquistador, o palhaço, o amigo, o homem. O ator está muito bem e explora a busca pelo prazer e o vazio, tanto do anonimato quanto da fama, de maneira majestosa, muitas vezes somente com o olhar.

É fácil criar uma conexão com o personagem, muito bem desenvolvido em todo o seu arco narrativo, interessante e cheio de sutilezas. Do bom pai e filho presente, ao anônimo-famoso afundado na vida de prazeres entre o sexo e as drogas. Prazer, sexo, limites, frustração, já que aceitar o anonimato era condição para ocupar o lugar de Bingo. Uma vez mariposa, é difícil ficar à sombra e o peso disso é cada vez maior.

A reconstrução de uma época aos mínimos detalhes. Brinquedos, propaganda, roupas, cores, costumes, tudo é pensado minuciosamente,  para ambientar o universo do Brasil no início dos anos 80. O filme é um verdadeiro mergulho na nostalgia para aqueles que viveram a época. É muito interessante ver materializado nas telas esse tempo e nossos antigos costume,s que hoje seriam execrados e motivo pra queimar uma pessoa na fogueira. O Brasil dos anos 80 era terra de ninguém, tudo era possível, até mesmo um palhaço em um programa de auditório apertar a bunda de uma criança. Uma conjunção perfeita entre o roteiro e a direção de arte em que é possível se transportar para o momento retratado.

A trilha também merece destaque, compondo com o resgate da época de forma magistral. É impossível não viajar no tempo!

Bingo é um filme dramático, um estudo de personagem, que apesar de ter bons momentos de piadas leves, trata de maneira muito competente todo o peso da história do artista sufocado dentro de sua própria vida.

Daniel Rezende disse querer a melhor equipe para realizar esse, que seria, seu primeiro longa solo. E tudo no resultado final aponta para o sucesso das suas escolhas. A fotografia de Lula Carvalho é excelente e, além disso, funcional. Em conjunto com a direção certeira de Daniel Rezende, consegue captar todas as nuances do personagem e do momento, explorando detalhes que fazem com que o filme seja não só a história do homem, mas também, o retrato de uma época.

As estratégias narrativas utilizadas por Daniel Rezende, o uso das cores, o domínio da misé-em cene para a exploração dos significados de cada cena, o caráter crítico por trás do retrato desse universo de busca pela fama e os simbolismos presentes, até o detalhe das escolhas dos nomes, uma vez proibido de se usar os reais, fazem desse filme uma obra louvável cheio de particularidades e acertos.

O elenco de apoio também merece destaque. Mais uma vez Augusto Madeira se destaca como o amigo do protagonista, uma espécie de Mefistófeles, sempre ali com uma droga nova, uma mulher diferente, colocando “Palha na fogueira”. E Leandra leal, como a diretora durona, fechada, religiosa e recata frente ao hedonismo descontrolado do homem por trás do palhaço.

Nessa jornada de ascensão e queda da mariposa pela luz, fica o ensinamento “ A vida é assim, as vezes a gente tá por baixo, as vezes a gente tá por cima, o importante é o balance”. E Bingo – O rei das manhãs chega aos cinemas, cheio de balance, com tudo pra ser um desses filmes que vai ficar pra história da cinematografia brasileira.

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