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Rifle: um western moderno de Davi Pretto

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Mesmo com o frequente lançamento de diversos filmes nacionais, uma das maiores dificuldades do cinema no Brasil ainda é na hora da distribuição dos filmes. Os problemas na hora de lançar os projetos é um dos maiores pesadelos dos cineastas e o filme Rifle do diretor e roteirista Davi Pretto (Castanha), acabou sofrendo desse problema, já que sua produção começou em 2010 e só conseguiu chegar aos cinemas agora, sete anos depois.

Talvez a maior dificuldade no lançamento do filme seja na hora de vender o projeto fora de circuitos de festivais, pois ele é um filme mais lento e que apresenta uma narrativa que não favorece o grande público. Ainda assim, o longa é uma obra minimalista que apresenta uma premissa interessante e com potencial, contando a história de Dione, um jovem extremamente reservado e com hábitos estranhos, que vive isolado no interior do Rio Grande do Sul, junto com uma família de fazendeiros. Lá eles possuem uma vida pacata cuidando basicamente dos trabalhos diários da vida rural. Mas essa tranquilidade é abalada quando um rico proprietário faz uma proposta para comprar a terra onde Dione vive com a família, desse dia em diante o jovem passa a carregar sempre um rifle, como forma de defender o seu território.

Logo percebemos que os outros vizinhos da fazenda também venderam suas terras e a sensação de isolamento que aqueles personagens passam fica cada vez mais evidente. Mas em vez de focar na questão apresentada na premissa, da “luta por um homem em proteger seu território”, o filme segue focando apenas no comportamento do personagem de Dione, que muitas vezes é difícil de compreender. Perdendo uma boa chance de ser um denso thriller sobre as diferenças e conflitos entre agronegócio e agricultores familiares, criando uma espécie de western moderno.

Ainda sim o filme apresenta alguns momentos de tensão ao espectador, mas ele peca na falta de utilização de alguns elementos que poderiam criar uma melhor atmosfera que o filme buscava passar, acabando caindo em uma narrativa lenta e sem muito ritmo. A própria escolha pela falta de uma constante trilha sonora e optar pela utilização de sons da natureza é uma escolha ousada, mas o trabalho de design de som de Marcos Lopes e Tiago Bello é excelente. Conseguindo demonstrar as questões de silencio e isolamento daqueles personagens em contraste com sons secos e diretos da natureza e do próprio tiro do rifle.

Outra área que pode gerar até certo desconforto para quem nãos esta acostumado é na atuação. Como o diretor opta por novamente trabalhar com não atores, fica difícil de saber quando eles estão criando maneirismos para os personagens ou quanto o roteiro se adapta aos maneirismos que os atores tem. Por exemplo, a inexpressividade de Dione e seu problema na dicção fazendo alguns diálogos serem difíceis de serem compreendidos. Além disso os atores, principalmente os do elenco de apoio, não passam muita verdade no dialogo. Faltando também certa motivação, desenvolvimento e até mesmo apego a personagens, que são apresentados de forma bem rasa. Sabemos do background de Dione o suficiente para justificar o bom uso dele do rifle.

Mas mesmo apresentando problemas e seu argumento e narrativa, podemos ver uma clara evolução no trabalho de Davi Pretto como diretor, ele faz bom uso de panorâmicas, conseguindo criar interessantes planos longos e sequenciais. Além de apresentar em “Rifle” uma interessante escolha em seu olhar, construindo as cenas com um ar documental, com longos planos abertos, dando a impressão de o espectador ser um mero observador da história. Isso também funciona graças à boa fotografia de Glauco Firpo, que faz um belo retrato da paisagem rural no sul do Brasil e do isolamento de quem mora nesses ambientes.

Renato Maciel
Renato Maciel
Carioca e tijucano, viciado em filmes, séries e tudo envolvendo cultura pop, roteirista e estudante de cinema, podcaster no Ratos de Cinema

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