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Um retrato forte e intenso da batalha entre liberdade e poder em Afterimage

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“Quando um filme é criado, é criado em uma língua, que não é apenas sobre palavras, mas também sobre a maneira que essa mesma língua codifica nossa percepção do mundo, nosso entendimento dele” Andrzej Wajda

A maneira de Andrzej Wajda de ver o mundo sempre permeou as histórias que escolheu contar e o olhar que direcionou a elas foi, na maioria das vezes, político ou repleto de elementos políticos. Seus trabalhos costumam sempre provocar emoções diversas e debates acalorados devido a seu conteúdo. E isso não seria diferente em Afterimage, que viria ser o último do consagrado diretor, que faleceu pouco antes de seu lançamento aos 90 anos.

O fato de ter sido o seu último filme levantou uma mística em torno de seu conteúdo, já que muitas pessoas questionam se há nele algum caráter bibliográfico. Facilmente a resposta será sim, já que assim acreditava Wajda, que toda a linguagem carrega um pedaço de quem somos e de nosso entendimento do mundo que nos cerca.

O diretor sempre criticou a política na Polônia e, dessa vez, o faz através do olhar do artista. Abordando a “Arte política”. Para alguns, o nível de envolvimento entre artista e política parece um assunto controverso, mas para Wajda, não. E em Afterimage, fica claro a visão do diretor acerca de como os artistas devem ou não se posicionar frente a questões políticas.

Um artista sentado no chão de seu ateliê começa a pintar, quando uma sombra vermelha inunda todo o espaço. Uma bandeira havia sido posicionada exatamente na frente de sua janela. O artista levanta atarantado e rasga a cortina deixando a luz entrar. O artista, Wladyslaw Strzeminski, formulador da Teoria da Visão, famoso representante do movimento de vanguarda polonês.

O olhar de Wajda acompanha os últimos dias do pintor enquanto ele se posiciona contra o realismo socialista. Ele defende seu direito a liberdade, mesmo que para isso corra o risco de perder tudo. A intransigência de um artista e seus princípios frente à covardia do autoritarismo.

Longa cria um retrato muito forte e intenso dessa batalha entre liberdade e poder. Um retrato da fragilidade e dos nossos limites. O diretor muito conscientemente constrói seus quadros repletos de significados em que se pode sentir o peso da opressão crescendo enquanto a vida vai se esvaindo do protagonista. A genialidade do diretor está na riqueza de detalhes e na exploração da crueza decadência da situação.

Afterimage é a impressão de uma vívida sensação, especialmente uma imagem visual, retida depois de o estimulo ter cessado. A narrativa e as escolhas do diretor levantam muitas questões, primeiramente, sobre a imagem e sobre permanência. A imagem que se fixa, essa será sua verdade. O restante é meramente resíduo. Resíduo da vida e de quem somos.

O filme é um belo representante da obra de Wajda e sua despedida é um retorno a boa forma, podendo ser considerado uma belíssima maneira de se despedir.

 

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