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As Duas Irenes: Um recorte geográfico e humano cheio de conflitos reais

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Um país de dimensões continentais como o Brasil é capaz de mostrar diferentes facetas da brasilidade onde podemos, mesmo de longe, contemplar e fazer parte por algumas horas, de vidas e histórias que dificilmente participaremos, mas que nos identificamos e a chamamos de nossa. Todo esse recorte geográfico e humano está presente em As Duas Irenes.

Situando nosso caro amigo leitor, a sinopse conta a bela e angustiante história de Irene, a filha do meio de um casal do interior, que em um belo dia descobre que seu pai tem outra família, com uma filha da mesma idade e que também se chama Irene. Revoltada com a descoberta, Irene passa a se aproximar de sua meio-irmã e da mãe dela, sem revelar sua identidade.

Partindo dessa premissa, te convido a entrar nos meandros e analisarmos juntos, esse belo exemplar do nosso cinema.

As Duas Irenes é um belíssimo estudo de personagens, onde só no recorte vemos as diferenças que as cercam. Irene, como citamos, é a filha do meio onde tanto a irmã mais velha, quanto a mais nova, é paparicada pela mãe e também pelo pai, coisa que independente da região e da realidade sócio econômica, você com certeza já viveu ou conhece alguém com essas peculiaridades. Essa relação, um tanto distante, se reflete muito no convívio com a família em diferentes momentos, uma hora não deixando Irene pintar as unhas, ora não a deixando sair de top, por achar a blusa curta. Tudo isso se molda na cabeça de Irene de forma muito negativa e com o agravante da puberdade onde seus anseios já começam a falar mais alto. Se vendo muito esquecida pela mãe, como já citamos, tudo se agrava com a proximidade do baile de debutantes, onde a irmã mais velha fará 15 anos.

Dessa forma, Irene com a descoberta de que seu pai tem outra família, e se vendo um tanto rejeitada pelos seus familiares, se aproxima da meia irmã e de sua respectiva mãe, com o nome de Madalena. A partir daí, somos testemunhas que de certa forma Irene descobre, ao lado da irmã (vamos chamar de Irene 2), uma vida que não conhecia, onde a amizade logo se faz presente e fica claro a decisão do diretor em confrontar essas duas realidades, pois a vida de Irene 2 é muito mais colorida, mais viva, tem o carinho da mãe e já encara a puberdade e seus anseios de uma forma mais audaciosa.  Apesar da mesma idade, Irene 2 tem o corpo mais desenvolvido, o que já desperta a atenção dos meninos e é obvio dela mesmo.

Essa amizade se desenvolve rápida e paralelamente, Irene se vê com a “faca e o queijo na mão” para sacudir sua família com essa bombástica revelação e ter a atenção que se acha de direito. De certa forma, acho bem acertada como a bela direção de Fabio Meira lida com essa situação, já que o ser humano adora barraco e adoramos ver de camarote. Só que isso não importa muito na trajetória de vida e de descobrimento que Irene se encontra ao ter a meia irmã ao seu lado.

Entrando na parte técnica do filme, temos uma obra linda, onde a direção bem leve e intimista dá o tom da historia, o diretor opta por planos bem parados, onde deixa a atuação falar mais alto, maravilhosa a opção de diálogos fora de quadro, onde dessa forma, viramos mais um personagem. Amparado pela belíssima fotografia, onde deixa claras as diferenças entre as duas Irenes, enquanto uma tem na roupa e sua casa um tom mais opaco, sem cor, a segunda transborda cores, tanto nas roupas coloridas, quanto nas cores acolhedoras de sua humilde casa. Não podemos esquecer a linda trilha sonora, composta por canções do sertão e poemas famosos do interior.

Grandes atuações caminham juntas para essa bela historia acontecer, Priscila Bittencourt que interpreta Irene está ótima, segura e passando toda veracidade e dificuldade de uma menina de 13 anos lidar com tudo isso. Isabela Torres (Irene 2), também está maravilhosa, ela é o motor que faz Irene se encher de esperança de uma vida mais colorida. Todo corpo coadjuvante ajuda as duas brilharem, Marco Rica que interpreta o pai, Inês Peixoto, Susana Ribeiro, Teuda Bara, Maju Souza completam essa colcha de retalhos de uma forma linda.

Com um final maravilhoso e muito inteligente, As Duas Irenes é uma bela historia que tem que ser não apenas vista, mas sim apreciada e que, independente da realidade que você vive, ela está ao seu lado.

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