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Stephen King, o homem por trás da obra

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Um homem adulto está sentado em frente a sua máquina de escrever sem qualquer noção do que transpor a ela. Na lixeira repousa um manuscrito completo do que seria um projeto literário, qualquer coisa sobre uma adolescente. É só com a abertura da porta que feixes de luz iluminam o sombrio cômodo, uma figura se aproxima e toma o manuscrito em suas mãos ao mesmo tempo em que esbanja um sorriso.

O Maine é o estado que mais produz palitos de dente nos EUA devido a sua larga extensão de florestas, 90% mais precisamente, os invernos são rigorosos e com temperaturas que podem cair mais de 20º. Foi nessa terra que o jovem Stephen Edwin King nasceu e amadureceu. Ainda criança viu seu pai abandonar a família e sua mãe se desdobrar em diversos empregos para manter o sustento dele e de seu irmão mais velho.

A vida no nebuloso estado passava sem graça para o jovem Stephen, não havia balões ou palhaços para ele ou sua família. As contas que cada vez mais se acumulavam e o abandono de seu pai eram como monstros para o jovem, que roubavam a sua infância e o arrastavam para um esgoto sem fim.

O conforto encontrado nas Histórias em quadrinhos, mais especificamente nos chamados “Tales from the Crypt” aonde pequenos contos de terror / humor negro eram publicados pela extinta EC Comics. Neles, o jovem Stephen aprendeu que o horror que ele passava poderia ser convertido em algo que não o machucasse. Entretanto, a realidade voltou-lhe a atormentar quando presenciou o atropelamento de um amigo por um trem, pois o pé ficara preso nos trilhos.

Foi só após entrar no curso de inglês na Universidade do Maine, em 1966, que King começou a exercer seu talento literário ao redigir uma coluna autoral para o jornal do campus chamada “King´s Garbage Truck”. Foi nessa época em que ele viria a conhecer também a mulher que mudaria sua vida, a estudante de biblioteconomia Tabitha Spruce.

A união estável foi uma consequência esperada, assim como um futuro promissor para o jovem casal. Stephen tinha a criatividade e Tabitha a organização natural. Entretanto, não foi assim que aconteceu. King não conseguiu emplacar quaisquer de seus contos, o dinheiro acabou e sua família foi obrigada a se mudar diversas vezes. A depressão e o alcoolismo vieram em seguida, o que acabava por se refletir em seus contos. Todos eram carregados de histórias cruas e sem esperança e todos iam para o lixo.

Um deles, em especial, acompanhava a vida de uma adolescente com poderes psíquicos que vivia sob o teto de uma mãe fanática. Sem qualquer noção sobre a biologia de seu corpo ela acaba menstruando e entra em desespero fazendo com que as outras garotas a tornem alvo de bullying. A crueldade do relato, a dor transposta na protagonista, a representação de adolescentes como sendo os verdadeiros monstros e não a garota com habilidades mentais fizeram Tabitha ressoar as palavras para seu marido. “ Publique isso logo”.

A tragédia de Carrie White, com o livro batizado de “Carrie, a estranha”, foi publicado em 1974 e se tornou um sucesso instantâneo. Da noite para o dia, Stephen King se tornou um autor de best-seller e agora com uma renda maior, pôde finalmente fornecer o conforto a sua família. No entanto, ainda havia um monstro final a ser derrotado. O alcoolismo no qual Stephen se recuperava ainda era uma lembrança dolorosa em 1977, mesmo com dois livros publicados, ainda era necessário expelir esse mal.

 

A publicação de “O Iluminado” representou esse exorcismo através do protagonista Jack Torrance que ao ficar de guarda de um hotel isolado em plena nevasca passa a ter alucinações e aos poucos enlouquecendo. Para King o hotel foi a forma de exemplificar a redoma que o vicio em álcool construiu em sua vida, aonde cada momento era uma tortura lancinante que beirava a loucura. A família de Jack que se torna vitima de suas alucinações representava a família de Stephen, cujo tormento pela saúde do patriarca era similar ao da ficção.

Nos anos seguintes Stephen King viria a escrever mais 44 obras, algumas delas como “ It: a coisa”, “Conta Comigo”, “ A espera de um Milagre” e “ Um Sonho de Liberdade” que se imortalizaram não só na literatura, mas também no cinema. Cada livro levaria também um pedaço de seu criador, “IT” representaria sua infância perdida, “ Conta Comigo” seu amigo de infância que perdera a vida em um acidente e “Cão Raivoso” que fora escrito no auge da sua dependência de álcool e drogas, também representado pelo cão que da nome a obra.

Fato é que Stephen King não apenas escreve terror, como é normalmente considerado. Seus livros são principalmente sobre os dramas individuais de cada sujeito representados de maneira a trazer o medo ao leitor, de que aquilo pode acontecer ( não da maneira sobrenatural). Suas obras muitas vezes incomodam por justamente tocarem nas feridas que ninguém quer ver mas que estão lá e que já estão fedendo.

Como ele próprio já disse: “ Monstros são reais, eles vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem”.

 

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