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Do questionador ao questionado,”Tripas” e das diferentes manifestações artísticas

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Por: Thales Valoura

Sabe aquela vontade que dá quando você sai de uma sala de cinema ou de teatro de falar para seus amigos o quão incrível foi o que acabou de assistir, mas logo em seguida se dá conta de que qualquer parte da obra que você descreva a fará perder a magia da coisa? Foi exatamente com esta vontade e ao mesmo tempo frustração que saí do Sesc Copacabana depois de ver o espetáculo “Tripas”. Por isso, aviso inicialmente que o badalado “spoiler” se fará presente neste texto.

Durante a internação de Ricardo Kosovski com uma crise de diverticulite aguda que deixou sua vida à beira, surge, com seu filho, Pedro Kosovski, a ideia de viajarem pelo mundo e voltarem à Israel. Durante a viagem surge a oportunidade de contarem a transformação da relação pai/filho que viveram justamente no lugar convergente de suas vidas: o teatro. Surge então “Tripas”, monólogo com o ator Ricardo Kosovski em cena, dirigido pelo seu filho Pedro.

A peça gira em torno de Ricardo enquanto preso no Golfo de Ácaba – fronteira entre Israel, Jordânia, Egito e Arábia Saudita. Ele narra sua história e de seu filho para os observadores internacionais, no caso, a plateia formada apenas por 25 espectadores. Texto biográfico, com elementos ficcionais, ganha força e sentido na atuação estonteante de Ricardo. Texto e atuação se unem de uma forma que faz você se emocionar e se sentir abraçado, mesmo com situações inusitadas. Aliás, de situações inusitadas, porém, as mais comoventes possíveis, a peça está repleta.

Somos tão envolvidos pelo o que acontece que, quando os ditos observadores internacionais são chamados para interagir, muitos prontamente se dispõem a participar fisicamente do espetáculo. Bastante se dá também pelo excelente trabalho de cenografia de Lídia Kosovski, que conversa precisamente com o texto, e da relação do ator com a plateia. Não menos envolvido somos pela guitarra ao vivo de Pedro Nêgo, que acompanha partes do espetáculo, até mesmo quando não há música.

Desde a relação pai/filho posta em cena à diferentes manifestações artísticas, esta peça é de suma importância não somente pelo excelente trabalho que este projeto apresenta, mas se faz presente num momento em que a censura está ganhando forma e força pungente.

Tripas é uma peça que me deixou desconfortável, abraçado, numa posição de questionador – e também de questionado, mas sobretudo agradecido por ter vivido tal experiência. Imagina que vontade enorme que me deu de sair por ai e contar para os meus amigos o quão incrível foi ver esta peça?

 

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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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