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O JOVEM KARL MARX: UM RETRATO RASO DO INTELECTUAL COMUNISTA

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Karl Marx é, indubitavelmente, o maior representante da corrente de esquerda na história do mundo. Em sua trajetória, aliou-se à causa operária e, em parceria com Engels, escreveu um dos textos mais importantes de discutidos: o Manifesto Comunista. Assim, já era de se esperar que, em algum momento, alguém se interessasse em produzir uma cinebiografia do filósofo, o que pode ser feito sob diversas angulações – e é justamente neste aspecto que O Jovem Karl Marx se perde.

O longa, dirigido por Raoul Peck (indicado ao Oscar de Melhor Documentário de Longa Metragem em 2017 por Eu Não Sou Seu Negro), parte do momento em que Marx (August Diehl), aos 26 anos, parte para o exílio com sua esposa, Jenny (Vicky Krieps). Assim, na Paris de 1844, ele conhece Engels (Stefan Konarsky), filho de um industrialista que investigou a formação da classe trabalhadora britânica e, logo, ajuda Karl a completar sua nova visão de mundo em meio à perseguição política, liderando, então, o movimento operário.

No entanto, a primeira falha do roteiro encontra-se no fato de pressupor que o público é absolutamente ignorante acerca do tema do filme é das personagens retratadas – além de Marx e Engels, também estão no filme Bakunin, Proudhon, Ruge e Weitling -, preenchendo o enredo de diálogos expositivos que só servem para ressaltar os feitos dos pensadores. Além disso o filme perde um excelente oportunidade de trabalhar mais profundamente os pensamentos de Marx ao não explorar o processo de elaboração e escrita de seus livros – pelo menos o Manifesto Comunista se salva destas elipses.

Por outro lado, a produção se esforça em retratar as diversas facetas de seu biografado – pensador/mártir da causa operária/marido afetuoso/homem de saúde frágil -, contudo, esta pode ser considerada a parte menos interessante do filme, que se torna muito mais estimulante quando deixa de lado as relações familiares e se volta para a filosofia. Entretanto, por causa do supracitado pressuposto de ignorância do público, o roteiro nunca se aprofunda neste território – é como se a produção se tratasse de uma espécie de “Karl Marx Para Leigos”.

Por fim, percebe-se que a construção do pensamento marxista (obra do biografado) fica praticamente em segundo plano porque a direção de Peck está mais interessada em se utilizar de clichês americanizados para transformar seu filme em um épico – tudo na produção trabalha para isso: trilha sonora, fotografia, estrutura do roteiro, etc. E isso é irônico, pois um diretor cujo documentário foi indicado ao maior prêmio do cinema mundial, teoricamente, saberia dirigir uma biografia de forma mais consistente. No entanto, a impressão que fica é de que o público leigo para qual o filme parece ter sido feito ainda não sabe exatamente o que de tão importante Karl Marx fez para merecer uma biografia.

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