O Destino de uma Nação: um recorte dos fatos históricos na biografia de Churchill

Uma aula de história política, a biografia de uma pessoa que mudou o curso do mundo e uma atuação tão incrível que inicia as apostas para o Oscar de Melhor ator, Em Destino de uma Nação, Gary Oldman interpreta Winston Churchill no período inicial de sua posse como Primeiro-ministro da Grã-Bretanha.O filme de Joe Wright trata com seriedade, através de uma cinematografia sombria, a história do homem que era temido pelo próprio rei.

Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a encarar um de seus maiores desafios: tomar posse do segundo mais alto cargo da Grã-Bretanha: o de Primeiro Ministro. Paralelamente, ele começa a costurar um tratado de paz com a Alemanha nazista que pode significar o fim do conflito e uma mudança radical no curso da história. Apesar de não ter sido a primeira escolha de ninguém e sofrer com a falta de auxílio de seu partido, Churchill segue apoiado pela esposa Clementine (Kristin Scott Thomas) e as esperanças do Rei George VI (Ben Mendelsohn).

Churchill age em meio a correria do cotidiano político, brilhantemente capturado pelo diretor Joe Wright às vezes com a ação em câmera lenta, ou visto de cima. Em ambas as técnicas é como se o público acompanhasse as transições de cena como quem tenta analisar com calma uma situação para saber exatamente como agir, relacionando-se assim com os discursos de Churchill. O dom da falácia lhe veio de forma a, não dominar, mas convencer e transmitir ideias ao povo.

O desejo da esposa Clementine é que o amem e respeitem, mas a verdade é que todos os temem, como é visto por meio da experiência da datilógrafa Elizabeth Layton (Lily James). Ela trabalha como secretária do primeiro-ministro e é possível compreender que seu comportamento reflete o da nação, aos poucos compreendendo os modos do homem e assim trocado o medo pelo respeito.

Todo o humor ácido, e a rispidez do personagem principal são muito bem interpretados por Gary Oldman, o que inclusive já lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator no Golden Globes 2018 (o primeiro de muitos, provavelmente). A construção do personagem é fruto de um estudo cuidadoso de Churchill, além de outro elemento que merece, no mínimo, uma indicação ao Oscar, que é a maquiagem e o figurino que contribuem não somente para o público enxergar a personalidade, mas também para o próprio ator personificar seu papel.

Em inglês, o título original do filme é The Darkest Hour e é notável o porquê. Ao longo da trama, cores estão presentes, mas não irradiam. Quanto mais perto da decisão sobre negociar ou não o tratado de paz com Hitler, menos cores são percebidas culminando em uma madrugada praticamente preto e branca, permeada de dúvidas e medos em que o protagonista se mostra vulnerável como visto apenas uma vez. Já na cena  em que fala ao telefone com Franklin Roosevelt e o implora por ajuda americana, a intensidade é menor.

Winston Churchill é uma figura histórica que ficou conhecida por seus discursos, por isso, o roteiro do longa também é reconhecido como excepcional. Desde frases prontas como “um relógio parado está certo duas vezes ao dia”, até as perguntas que faz diretamente ao povo quando pega o metrô em uma cena inesperada e quase hilária, transformada em inspiradora e decisiva graças ao discurso feito pelo homem.

O poder de convencimento do homem é tão pertinente que exige cautela ao analisar a situação e as decisões que tomou durante a Segunda Guerra Mundial. A combinação Gary Oldman, em um de seus melhores papéis, e Joe Wright, em um de seus melhores filmes, culmina em um grande encontro entre eles nas telas. Um brilhante filme que faz um ótimo trabalho em recortar parte dos fatos para caber em uma biografia histórica que reflete sobre o poder de sacrifícios e de nunca desistir.