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“TODO O DINHEIRO DO MUNDO”: UM FILME MUITO BEM COSTURADO POR CHRISTOPHER PLUMMER

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Na década de 70, o jovem de 16 anos John Paul Getty III – neto do homem mais rico do mundo, o bilionário do petróleo John Paul Getty – é sequestrado na Itália sob um pedido de resgate inicial de 17 milhões de dólares. A mãe, Gail Harris, já divorciada do pai do rapaz recorre ao ex-sogro para conseguir o dinheiro. No entanto, o homem se nega a pagar a quantia pedida pelos sequestradores, entrando em um embate com Gail, enquanto todo o caso recebe a atenção voraz dos jornais ao longo dos cinco meses em que o rapaz ficou em cativeiro.

A história já é bastante conhecida ao redor do mundo, sendo um dos casos de sequestro mais icônicos da história. Assim, em 1995, o escritor John Pearson (conhecido pela aclamada biografia da Família Real Britânica) contou estes acontecimentos no livro “Painfully Rich”, que, agora, serviu de base para o filme Todo o Dinheiro do Mundo, roteirizado por David Scarpa e dirigido por Ridley Scott. Aliás, esta produção por si só já chega aos cinemas com uma história interessante para contar, uma vez que parte do longa teve de ser regravada.

E, isso se deve aos escândalos de assédio sexual que vêm acontecendo em Hollywood desde o ano passado – diretores, produtores e atores viram suas carreiras serem atingidas pelos crimes que cometeram. Um destes atores foi Kevin Spacey, que, após um número chocante de denúncias, foi demitido de “House of Cards”, série que protagonizava na Netflix, e teve sua participação em Todo o Dinheiro do Mundo cortada – o que foi um grande contratempo, já que Spacey interpretava o magnata Paul Getty. Assim, quando foi anunciado que o veterano Christopher Plummer assumiria o papel, surgiu uma grande ansiedade/expectativa para saber como o ganhador do Oscar, Emmy e Globo de Ouro se sairia – a principal preocupação era o filme sofrer o “Efeito Esquadrão Suicida” e parecer uma colcha de retalhos. Mas, qualquer preocupação é obliterada assim que Plummer surge em cena, mostrando, aos 88 anos, que sua indicação ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante da Academia foi totalmente merecida.

Aliás, o diretor Ridley Scott declarou em entrevistas que não permitiu que Plummer assistisse ao material gravado por Spacey e o resultado é o melhor possível. O ator canadense imprime um certo charme à personagem, mesmo que suas atitudes possam despertar a ira do público em alguns momentos. A interpretação dele de um homem inflexível, mesquinho e egocêntrico possui inúmeras sutilezas que fazem com que o espectador entenda o ponto de vista de Getty, mesmo que não concorde. “Eu tenho 14 netos. Se eu pagar o resgate, terei 14 netos sequestrados”, afirma o bilionário à imprensa em tom quase jocoso. Além disso, nos momentos decisivos do terceiro ato, o ator foge da fantasia de vilão unidimensional e mostra um pouco da humanidade da personagem.

Outro nome de destaque é Michelle Williams – uma das melhores atrizes de sua geração, mas que ainda não recebeu o devido reconhecimento. Aqui, ela dá vida à uma mulher obstinada, forte e à frente de seu tempo em alguns aspectos, mas não apenas isso. Gail Harris não pertence ao mundo dos multimilionários que vivem no luxo e com medo de serem roubados, ela é uma mulher comum que já foi casada com o filho de um magnata, somente. No entanto, em suas aparições públicas, é esperado que ela tenha um determinado comportamento por tabela e o brilhantismo da interpretação de Williams se encontra justamente nessa dualidade – além do desespero de ter o filho sequestrado.

Além dos dois astros, outro integrante do elenco que chama atenção é Romain Duris, que interpreta Cinquanta, um dos sequestradores. Sua personagem é a que passa mais tempo com a vítima, desenvolvendo um arco interessante. O criminoso é ameaçador, um pouco imprevisível, mas, ainda assim, mostra humanidade, sendo capaz até de despertar empatia no público, afinal, em um sequestro que durou cinco meses, Cinquanta e Paul Getty III desenvolveram algum tipo de relação até a libertação do rapaz.

Aliás, o jovem é interpretado por Charlie Plummer e se sai bem ao dar vida à ovelha-negra da família. Desde o medo até um certo nível de arrogância, as emoções passadas em cena são críveis. O mesmo não pode ser dito de Mark Wahlberg, que, definitivamente foi a escolha errada para o filme. O ator não consegue entregar as emoções que a personagens precisa expressar – e não foi por falta de oportunidade, já que há cenas que seriam muito melhor aproveitadas nas mãos de outro ator. Contudo, não se pode dizer que Wahlberg não tentou, mas o ideal seria que sua carga dramática fosse tão grande quanto seu esforço.

Já nos aspectos técnicos, o filme se sai bem ao costurar as cenas já gravadas com as que foram refilmadas com Plummer – à exceção de uma cena em que o chroma key é mais perceptível, mas isso não chega a atrapalhar o andamento do longo. Além disso, a cinematografia faz um excelente trabalho ao opor o “mundo real” – palpável, comum – e o mundo dos bilionários – luxuoso, ostensivo e até um pouco sombrio. E essas característica poderiam ser complementadas pela trilha sonora, mas esta se mantém muito discreta em certos momentos, falta impacto.

Uma outra falha do filme é sua duração: duas horas e quinze minutos. A produção poderia ser uns 15 minutos mais curta, sem prejudicar o andamento da história. Pode parecer pouco, mas é perceptível um “inchaço” no último ato, uma vez que não há mais como utilizar a não-cronologia do roteiro como recurso para dar dinamismo ao enredo. Mas, fora isso, “Todo o Dinheiro do Mundo” é um filme bem realizado, que tem uma história interessante para contar, e possui, pelo menos, duas excelentes atuações para serem contempladas. Vale a pena uma ida ao cinema.

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