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Melancolia e isolamento em um filme sobre o racismo nos 40 no Estados Unidos

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Por Pedro Verani

Com 2 indicações ao Oscar 2018, Mudbound – Lágrimas do Mississipi – terceiro longa da norte-americana Dee Rees, chegas aos cinemas nacionais. Adaptação do livro debutante de mesmo nome da romancista Hillary Jordan, e explora a questão racial nos EUA durante e após a 2ª Guerra Mundial.

A estória se passa no Mississipi dos anos 40, e tem em seu cerne a relação entre os recém-chegados e novos patrões, os McAllan, brancos de classe média, e os Jackson, uma família negra humilde com raízes no campo. A relação de “suserania-vassalagem” típica da época, e a convocação para a Guerra de entes de ambas as famílias, serve de combustível para a trama.

A Segunda Guerra Mundial é um tema mais do que recorrente na indústria de cinema norte americana, e pode até soar clichê, mas nas mãos da diretora Dee Rees, ela não é glamourizada, pelo contrário, rápida e seca, serve perfeitamente à trama, e aproxima os McAllan e os Jackson ao mesmo tempo em que os “ajuda” a traçar seus perfis, o caráter que agora carregam consigo no retorno do pós-guerra.

A recepção que os soldados norte-americanos (negros, em especial) recebem ao libertar os países ocupados da Europa, um sentimento de importância, de “fazer o bem”, cai por terra em contraste com a volta para casa e às guerras, em um Mississipi atolado em lama, intolerância e injustiça. E essas batalhas podem ser muito mais violentas dos que aquelas além das linhas inimigas.

Nos últimos anos, o preconceito racial e suas manifestações cresceram em voz e se proliferaram em ações diretas na sociedade norte americana. Os conflitos têm levantado questões e desmascarado o cinismo em torno do tema. Assim, é inegável a relevância de filmes lançados recentemente como Get Out e Mudbound.

Pode-se dizer que em alguns momentos o filme ultrapassa o limite da sutileza ao transmitir sua mensagem, mas no caso de Mudbound, não me incomodou. A fotografia e a direção de arte são impecáveis e enriquecem, dão profundidade ao que é mostrado, criam uma atmosfera de melancolia e isolamento mesmo diante de cenas externas dignas de contemplação.

A sólida atuação de todo o elenco – com destaques para Carey Mulligan, Rob Morgan, Mary J. Blige e Garrett Hedlund – comprovam a capacidade de Dee Rees em trabalhar com atores. A sinergia entre eles é incrível e transparece a cada diálogo.

Mudbound tem quase 2 horas e meia de duração e devido ao seu ritmo lento, com movimentos de câmera mais lentos ainda, pode até ser cansativo e um pouco entediante, mas sinceramente, não partilho desta opinião. Há muita coisa acontecendo sob a superfície e os conflitos estão ali, construídos e sustentados pelos ótimos diálogos e atuações.

Quando uma estória é minimamente bem contada e lindamente filmada e encenada, as hipérboles em relação a mensagem que o filme quer passar não me causam tanto ruído. Em Mudbound o tema é claro, fica cada vez mais evidente e, sim, poderia ter sido tratado com mais elegância, mas mesmo assim, a adaptação entra na lista de bons filmes deste ano.

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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