A realidade atemporal de Cidade de Deus

Por Lizandra Rios

O atual cenário preocupante do Rio de Janeiro levanta para debate muitas questões importantes. O cinema, que também é um meio de comunicação, sempre tenta levar para as telas o que acontece na vida real. E com o cinema brasileiro não poderia ser diferente. Cidade de Deus é o filme que mostra a crua realidade da famosa e turbulenta favela carioca, contando sua história desde a origem, nos anos 60.

Dirigido por Fernando Meireles e Katia Lund e indicado a quatro categorias na cerimônia do Oscar de 2004, o longa é baseado em fatos reais e mostra como a comunidade da Cidade de Deus, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, surgiu e se desenvolveu até o início dos anos 2000, quando o ambicioso Zé Pequeno (interpretado por Leandro Firmino), quer dominar completamente a comunidade, a qualquer custo.

O que mais impressiona na narrativa é a forma como as histórias são contadas, sempre parando uma e contando a outra, de uma forma que o espectador consiga entender o ponto de vista de todos os personagens. No meio de todo o drama envolvendo o tráfico, nos apegamos à história de Buscapé (Alexandre Rodrigues), o narrador-personagem do longa, que conta desde sua infância, passando pelos dramas da adolescência e até o início da fase adulta, quando decide virar fotojornalista. Tudo isso sempre entrelaçando sua história com a da comunidade.

Cidade de Deus é um filme que, mesmo tendo sido lançado em 2002 e muita coisa tendo mudado desde então, pode ser considerado atemporal por retratar tão verdadeiramente a realidade da favela. Em tempos difíceis, o cinema pode ser uma forma de mostrar a novas gerações o que veio antes delas, assim ajudando a compreender o atual cenário crítico em que nos encontramos.