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“O Rei da Glória”, de Anderson Cunha, perpassa extratos das vidas

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Monólogo idealizado e executado pelo ator Anderson Cunha perpassa extratos das vidas de sete personagens do bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Um malandro, um gênio, um pastor evangélico, um engraxate: são alguns dos tipos vividos pelo ator, que consegue transmutar-se com aparente facilidade em um e outro arquétipo. Não há exatamente um traço dentro do espetáculo que seja arrebatador ou digno de exaltação especial,
porém é com grande êxito que o espectador é guiado por um passeio através do lado mais soturno da alma carioca.

A peça comenta a invisibilidade dos moradores de rua, a crítica discreta à certos discursos, correntes nos meios sociais, e que tem o poder de gerar ódio, apontar inimigos e polarizar a coletividade. A peça faz boas correlações semânticas entre o mundo da ciência e o estado das coisas no Rio, no Brasil e no mundo.

O bóson de Riggs, que pode transformar-se em qualquer coisa, é o pretexto para descontruir visões pré-fabricadas a respeito do ser humano. A sinestesia é o pretexto para tornar mais poética a descrição das coisas e a percepção do nosso entorno.

Realmente, trata-se de um espetáculo comedido e em sedimentação, o que significa que tem muito espaço para crescer enquanto estiver em cartaz, tanto no trabalho do ator quanto no juízo do público. Anderson está bastante à vontade e performa tranquilamente, transitando entre o calmo, o intrigante, o grotesco, o racional e o desespero.

É bom ver um ator seguro de sua partitura, e, certamente, seu caminho com esta montagem lhe permitirá explorar ainda mais cada nuance e cada rincão da paisagem que propõe ao espectador.

Serviço: https://rotacult.com.br/2018/02/monologo-de-anderson-cunha-o-rei-da-gloria-reestreia-na-sala-baden-powell/

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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