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O Terceiro Assassinato foge dos clichês de filmes de tribunal

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 Se for ao cinema em breve e vir o pôster de O Terceiro Assassinato provavelmente seus olhos passarão sem dar a devida atenção ao filme de Hirokazu Kore-eda. Não os julgo. Antes de ler a sinopse e passar rapidamente pelo material de divulgação, somado ao título do filme em português, me remeteu a um filme de ação daqueles estrelados por Jackie Chan, que nem japonês é. Para você ver, através desse meu honesto mea-culpa, no quanto menosprezamos, mesmo que involuntariamente, obras não-hollywoodianas.

Tomoaki Shigemori (Masaharu Fukuyama) é um advogado criminal que assume a defesa de um antigo cliente de seu pai, Takahashi Misumi (Koji Yakusho), acusado de assassinar cruelmente seu antigo chefe, à beira de um rio. Misumi já em custódia, por ter assumindo a autoria do crime em primeira instância, fornece detalhes do caso para seu novo advogado, para que o novo time de defesa planeje uma redução de pena, que no momento, é a de morte. A intenção deles é que ao menos a vida de seu cliente seja poupada, reduzindo-a para a prisão perpétua.

Neste processo de pesquisa, colheita de depoimentos com seu cliente e planejamento de uma nova estratégia de defesa, Shigemori se encontra num labirinto de teorias e sensações que o leva a imprecisão das escolhas, deixando-se dominado por um sentimento de justiça e moralidade em detrimento às ações que o levarão ao êxito no caso. Essas dúvidas só crescem quando a relação entre Shigemori e Misumi se estreita, e o advogado começa a acreditar que Misumi, na verdade, sequer cometeu aquele crime. E então tenta arrancar de todas as maneiras, o motivo pelo qual seu cliente confessou o crime e praticamente condenou-se à morte. No meio dos dois, a misteriosa menina manca, Sasabara Itsuki. (Mikako Ichikawa) Filha do homem assassinado naquela noite. Nela estão respostas (ou mais mistérios), sobre o que pode ter acontecido, de fato. Qualquer descrição além desta breve sinopse passa a ser spoiler. Portanto, vamos à parte que nos cabe, ou seja, a crítica.

Para situar o público logo de cara: é um filme de tribunal! Já disse aqui, em outras críticas, que adoro filmes de tribunais.  Um crime, dois lados: promotoria e defesa. Ao centro, o réu. Culpado, ou não? Esta é a premissa básica de um filme de tribunal. Se pegarmos a maioria dos filmes deste gênero, o clímax vem com a condenação ou absolvição do indiciado. Certo? Em O Terceiro Crime, o caracter driven, ou o plot, passam longe deste conceito. A ideia, inovadora e original, é a do questionamento de todos acerca de um crime brutal. Tornar tal crime secundário, e nos fazer observar cada um dos passos e motivos de todos os envolvidos na trama.

O clímax é algo que se tem visto muito nos roteiros modernos. E posso afirmar que é uma fortíssima tendência do que há por vir por aí em matéria de roteiro. Me agrada muito.
Kore-eda faz um trabalho excepcional! Uma característica a qual podemos dizer que carrega uma assinatura do oriente, é a criação de um paralelo abstrato que caminha junto com a trama, em forma de uma delicada metáfora aplicada pelo antagonista, no caso, Misumi. O protagonista é Shigemori, advogado, que ao longo da trama mergulha internamente e cresce muito em matéria de construção de identidade.

A fotografia fria e escura, nos dão a agonia esperada na busca de respostas, soluções. Ao passo que a atuação aparentemente “burocrática” dos atores, é proposital. A pena de morte não é tratada como um fantasma, aqui. E sim, o vazio da vida. Para que estamos aqui. Existem pessoas que não deveriam ter nascido. E seu destino já está traçado. Estes são os questionamentos postos por Kore-eda, de forma milimétrica. Tudo que se espera de um filme de tribunal, incluindo o suspense, está em O Terceiro Assassinato. Retire os clichês, e terá uma obra magnífica. O corte final é sensacional.

Não posso dizer mais. Na verdade posso: algo que me fez refletir ao final do filme, exercitei, e posso sugerir aqui: após ver o filme, substitua Fukuyama por Ryan Gosling, Misumi por Richard Gere, e Mikako Ichikawa por Emma Watson ou Dakota Fanning, sob a direção de um Aronofsky ou sei lá, Paul Thomas Anderson: teríamos um indicado ao Oscar. Simples assim.

Sempre importante alertar: é uma produção japonesa! O filme é mais delicado e profundo, e também, mais moroso, então, não espere clichês de Hollywood.
Ótimo filme. Vá ver!

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