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“A AMANTE”: UMA AUTODESCOBERTA TARDIA

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Durante a Berlinale 2016, o filme A Amante (Hedi, no original) foi um dos grandes sucessos daquela edição do festival, faturando os prêmios de Melhor Filme de Estreia e de Melhor Ator — este último para Majd Mastoura, que protagoniza o longa. E parte deste sucesso se deve ao fato de a produção carregar as consequências da Primavera Árabe, a qual promoveu diversas mudanças nos países de cultura muçulmana, o filme traz essa nova face destas sociedades, como declarou o próprio diretor, o tunisiano Mohamed Ben Attia.

A trama conta a história de Hedi, um representante de vendas da Peugeot que tem uma vida aparentemente bem estruturada e estabilizada: pertence a uma boa família, é um funcionário exemplar com uma vida financeira satisfatória e tem uma noiva jovem e bela. No entanto, a todo momento, o rapaz exibe uma aura tensa e desconfortável — aspecto elevado pelo trabalho de câmera do diretor, sempre muito próximo ao rosto da personagem, registrando cada traço das expressões e emoções do ator.

Aliás, é importante ressaltar que Majd Mastoura realiza um excelente trabalho na pele de Hedi, fazendo por merecer o Urso de Prata do Festival de Berlim. Ao mesmo tempo em que o rapaz demonstra o forte desconforto — e até mesmo agonia — por se sentir constantemente deslocado, há momentos em que é possível ver que há um homem extremamente dócil e amável por trás disso, a atuação de Mastoura não cai na armadilha de possuir apenas uma faceta ressentida, azeda e rude.

E estes momentos de descontração e satisfação passam a se tornar mais evidentes a partir do momento em que Hedi conhece Rim (Rym Ben Messaoud), uma mulher que se contrapõe a todos os aspectos da vida dele e das pessoas que o cercam. Rim é uma pessoa livre, de 30 anos que nunca se casou e não teme viver sua sexualidade de forma plena e da maneira que acha melhor. Diante disso, Hedi, inevitavelmente se apaixona e, com isso, é, por fim, exposto ao público o principal dilema da produção.

Assim, o roteiro revela o seu trunfo que torna uma história quase prosaica em uma trama envolvente, pois, em vez de seguir a trilha do drama romântico, o longa opta por ser um enredo sobre amadurecimento — quase como se fosse um coming-of-age tardio —; dessa forma, o espectador passa a acompanhar Hedi não se redescobrindo, mas se descobrindo pela primeira vez na vida, fazendo com que seja impossível não torcer por ele e pelo casal, cujos dilemas morais são evidenciados eficientemente pelas demais personagens.

Com isso, A Amante é uma produção que, sem dúvidas, coloca o nome de Mohamed Ben Attia nas listas de Diretores-Para-Se-Prestar-Atenção pelos próximos anos, pois, apesar de o longa não trazer nenhuma grande inovação — o que, de fato, não é a proposta — ou inventividade estética — uma vez que segue a cartilha básica de seus conterrâneos —, o filme compensa por sua perspectiva realista e racional dos acontecimentos, como se espera que seja uma produção que possui um matiz — mesmo que ao fundo — sócio-político, sempre trabalhando a vida a partir da premissa de ação e reação.

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