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Diário da Minha Cabeça: O cinza entre os extremos das sensações

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Por Tarsso Freire Sá

Por décadas somos incentivados a expressar nossos sentimentos e emoções. Nunca guardar nada que nos aflija ou que cause profunda euforia. Mas até para este caso, há um limite. Benjamim (Kacey Mottet Klein) é um jovem atormentado pelas tempestades que rugem dentro de sua cabeça. Uma profusão imensa de sensações que se manifestaram no corpo físico. Em um momento de extrema insanidade e desespero, ele mata seus pais. Antes disso, envia seu diário para sua professora de francês Esther Fontenel (Fanny Ardant), O Diário da Minha Cabeça, como ele o intitula, e que também é o título do filme. Ambos possuem rachaduras em suas barreiras emocionais. Pois eles entraram em uma fenda delicada na estrutura do relacionamento entre aluno e educador, limites só são descobertos quando são alcançados.

A personagem de Ardant estimula os alunos de sua classe a escreverem diários como um forma de se expressar. Ela crê que isso revela a essência da literatura. Transformar em tinta o que a boca é incapaz de nomear, as sensações, as verdades. Tudo que queria era aliviar a torrente de conflitos internos e emocionais que permeiam todo o processo da adolescência, em que cada sensação é elevada a enésima potência pelos hormônios a flor da pele.

A direção de Ursula Meier, e seu companheiro de roteiro Antoine Jaccoud, revelam com genialidade o cinza entre o preto e o branco, entre o nada e o tudo. Tendo a própria professora Esther como a representação da tentativa de se achar um meio termo. Se ela tem culpa ou não nas ações de Benjamin, os autores deixam o espectador agir no papel de juiz, para tentar achar algo tangível no crime deste jovem. Ela sofre com culpa, sente uma responsabilidade que talvez nem sua seja, mas mesmo assim ela assume tal papel. Foi traída pelas palavras, pelas ações, e até mesmo pela literatura.

A profundidade existe na simplicidade da excelência que existe no cinema suíço. No ato de explorar as fissuras mínimas entre a relações existentes nele. No ato de “por para fora” tudo que se sente, mesmo que não traga paz, já que toda ação leva a uma reação. A atuação de ambos, professora e aluno incorporam as extremidades, o silêncio da abnegação e o rugido de tormento.

*filme visto durante o  7º Panorama do cinema suíço contemporâneo 

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