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Rinocerontes: A metáfora para as grandes questões do tempo moderno

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A premiada montagem de “Rinocerontes”, dirigida por Luiza Rangel é um ícone do teatro do absurdo, representado por Eugene Ionesco, o dramaturgo romeno que escrevia em francês.

Diálogos paralelos, a relativização do sentido e o próprio gérmen do nonsense são algumas das marcas desta dramaturgia. Situações improváveis são propostas e estabelecem uma dinâmica muito original. A lógica usual das cenas e das narrativas são invertidas, deixando muitas vezes o espectador com um ponto de interrogação na cabeça.

Cidadãos passam a transformar-se em rinocerontes: é a metáfora para as grandes questões do tempo moderno. A violência, a desumanização, a crítica ao papel do estado, o olhar sobre a postura dos indivíduos e da sociedade que se forjava naquele momento histórico e que permanece atual para conjunturas do presente. O texto foi escrito em 1960. Registros diferentes e variados são semente das hibridizações contemporâneas. Há dialética clara com o que acontece no cenário político-social no Brasil de hoje.

O absurdo está ao mesmo tempo nos paquidermes que transitam pela cidade e na desumanização do homem, que é objeto da obra de Ionesco. Dois amigos marcam um encontro em um café, um estrondoso ruído de animal interrompe a conversa. A partir daí uma série de eventos fantásticos e inexplicáveis. Pessoas metamorfoseiam-se em rinocerontes e ser rinoceronte torna-se o desejo daqueles que ainda se encontram em estado humano. É impossível entender as analogias sem contextualizá-las.

Os atores parecem estar à vontade, contudo ainda há espaço para evoluírem e apropriarem-se ainda mais dos argumentos e do sentimentos desta peça ao longo da temporada. A estética é limpa, no sentido de que não há grandes peripécias de visagismo, mas sim a aposta na própria força do texto.

O espetáculo venceu o Prêmio Yan Michalski (Questão de Crítica) nas categorias ator (Davi Palmeira) e especial (Arte Sonora) e venceu também o Festival Internacional de Teatro de Blumenau (FITUB) nas categorias espetáculo, direção, ator (André Locatelli e Davi Palmeira) e desenho sonoro.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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