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Vingança: Da caçada animal ao empoderamento feminino

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Kill Bill parece um bom filme de referência para este longa. Duas personagens femininas fortes, que buscam vingança por algo que um homem fez a elas. Esta também é a trama de Vingança, o novo longa protagonizado por Matilda Lutz e dirigido por Coralie Fargeat. O tema que ronda a obra é justamente empoderamento feminino e até que funciona, até certo ponto, mas acaba se tornando uma clara regravação de Doce Vingança e perde seu quê de originalidade.

O longa conta a história de Jennifer (Matilda Lutz), que por enquanto, é “só” a amante Richard (Kevin Janssens), homem rico que a leva para a casa de caça, onde aguarda Stan (Vincent Colombe) e Dimitri (Guillaume Bouchède) para seu evento anual. Os amigos chegam alguns dias antes da data planejada e acabam descobrindo a existência da garota. Quando um deles a estupra, Richard decide matá-la com o apoio dos colegas. As coisas não saem como planejado e agora Jen só tem uma coisa em sua mente: vingança.

Não havia distribuidora melhor para este longa, afinal, a grande virada é que a protagonista deixa de ser “só a amante” para ser a poderosa assassina que renasce das cinzas como uma fênix para não somente sobreviver, como desafiar cada uma das pessoas que a fez sofrer e mata-las sem piedade. A personagem passa de sensual e avoada à poderosa e destemida em poucas horas, o que é essencial para sua sobrevivência no deserto do México, onde ocorre a caçada anual.

E o que antes era uma caçada animal se torna uma caçada humana. Quem era presa, vira predador, e a inversão de papéis não para por aí. No começo, há muitas cenas que focam nos glúteos de Matilda Lutz, porém, no final, é a vista traseira de Kevin Janssens que é focado no ápice da perseguição. Uma sacada genial da diretora Coralie Fargeat, que consegue incomodar a plateia e fazê-la refletir sobre a objetificação dos corpos, quando a transfere da mulher para o homem.

No entanto, nem tudo são flores na direção. A tentativa de construir cenas mais poéticas, com zooms em mastigação nojentas para deixar o clima desconfortante e montagens de trilha que pouco encaixa na narrativa, acaba por retirar o público do clima, para questionar as escolhas cinematográficas. A peculiaridade da direção é um experimento interessante, que pode não ter recompensado totalmente, mas ainda representa algo novo na indústria, o que é sempre prazeroso de se perceber.

Outra falha pode ser vista na edição que contém alguns poucos, mas notáveis erros de continuidade, como Jen estar mastigando em uma cena, mas não logo em seguida de outro ângulo, posições de pessoas, nada que realmente afete o filme. Algo um pouco pior são as falhas no roteiro. Apesar de apostar em uma trama com poucas falas e manter um diálogo inconsciente com o espectador, ainda há questionáveis técnicas médicas e leis da física desafiadas.

Quando Jennifer sela uma ferida em seu corpo com o invólucro de uma cerveja mexicana e não só ganha uma tatuagem gratuita e pouco dolorosa graças as substâncias que ingeriu para aguentar a dor, mas também magicamente consegue que a marca não fique ao contrário, percebe-se que há algo errado. A cena desta “cirurgia” é justificada pelo peso que possui na formação da marca registrada de Jennifer, uma águia. No entanto, existe mais um “procedimento médico” realizado, desta vez pelo personagem Stan, em que retira um caco de vidro do seu papel. Ali fica claro que a cena só se estende pelo desprazer do público, pois não há justificativa alguma para mostrar aquilo em completo. A diretora teve a intenção de mostrar a resistência da mulher versus a do homem, mas certamente não precisava se alongar de tal maneira.

A garota do brinco de estrela, que sonhava em ser notado por alguém em Los Angeles, e acaba encontrando que a vida é muito mais complicada do que isso, é a história de Vingança. Este filme não é para os fracos de estômago devido as cenas grotescas e detalhistas de procedimentos médicos realizados com pouca instrução. O longa vale a pena pelo que representa, mais do que pelo modo como foi executado: uma diretora mulher, falando sobre uma corajosa garota que se protegeu com uma força que não sabia que possuía.

Luana Feliciano
Luana Feliciano
Estudante de Jornalismo, ama escrever e meus filmes favoritos sempre me fazem chorar. Minhas séries preferidas são todas de comédia, e meus livros são meus filhos.

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