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Texto de Mario Vargas Llosa, “Tia Júlia e o Escrevinhador”, ganha linguagem contemporânea

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“Tia Julia e o Escrivinhador”, grande texto de Mario Vargas Llosa, está sendo montado por um elenco bastante afinado e que está colocando a trama do Nobel em literatura nas alturas, e no ar. A direção de Ritcheli Santana é inventiva, explora espacialmente bem a cena e tem bom gosto nas escolhas de cenário, cores, lumes e de movimentação no palco.

As luzes se acendem. Ao vivo, o promitente literato Mário (Otávio Tardelli) apaixona-se por sua tia (Fernanda Teixeira), muito mais velha e isso é um escândalo. Simultaneamente, o dramaturgo já consagrado, Pedro Camacho (Gonzalo Martinez Cortez), entra em um grande crise criativa e passa a esquecer e a confundir suas personagens e enredos. Há muito humor e há também uma boa dose de romance. É um texto completo, no sentido de que contempla vários registros.

Merece destaque a atuação de Gonzalo, que está completo em cena e, também, responde pela tradução do texto e pela produção. A adaptação é de Caridad Svich. O espetáculo é bastante divertido e expõe uma linguagem contemporânea e despojada, contando a história com leveza, mas com fôlego. A tendência é a de que a peça esquente ainda mais até o final da temporada no Poeirinha e, merece ter vida longa, em outros palcos.

O pano de fundo é um dado conservadorismo e um estado de coisas atávico na sociedade em questão. Há certa provocação à classe média peruana dos anos cinquenta, que pode ser transposta à classe média brasileira de hoje, em certos aspectos. Em Hollywood essa trama ganhou as telonas sob o título de “Tune in Tomorrow” .

Algumas observações podem ser tecidas, por exemplo: se a ação passa-se no Peru e algumas personagens têm o sotaque, este sotaque deve ser bem preparado e deve corresponder ao falar hispânico, e não ser uma caricatura, ou um jeito de falar indefinido e peripatético. Sotaque é algo que destrói o trabalho do ator, se não for preciso – pode dar a impressão de esculhambação.

A utilização de objetos cênicos originais garante boas soluções para as transições entre quadros e cenas. A iluminação (de Anderson Ratto) também está bastante acurada, assim como a trilha (de Diogo Matos), feita sob medida para esta montagem.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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