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“O Caos Reina”: Uma fábula sobre a guerra

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“O Caos Reina”, peça escrita e dirigida por Pedru Maia, traz uma dramaturgia original e eclética. A premissa principal baseia-se na conhecida história do homem e da mulher, fadados ao encontro e à procriação. Contudo, são vários os elementos incidentes que tornam o espetáculo uma ode à vida e um catalisador de transformações internas no espectador.

Em uma alusão ao caos do início dos tempos, se desenlaça uma fábula que envolve a guerra, a noção de tentação e pecado, e a necessidade de se salvar a humanidade. Dois irmãos presos em uma caverna, superando traumas de sua criação e descobrindo que a única maneira de perpetuar-se é a transgressão, superar certas regras, que sempre pareceram imperiosas. É um duelo entre moral e sobrevivência.

Uma raposa que guarda a entrada da gruta e uma serpente que oferece o caminho da ilusão; são alegorias que ajudam a compreender a dificuldade em decidir dentre os vários caminhos e de se seguir em uma existência decente e satisfatória, simultaneamente. São inúmeros obstáculos e miragens que se impõem às personagens vividas por Paula Furtado e Eric Polly e, o que se pode experimentar durante a montagem é a sensação de turbilhonamento, indefinição e falta de ordem no universo, que devem ser vencidos pelo homem, em sua aventura de trazer sentido ao caos reinante.

São utilizadas incursões de linguagem inovadora, como a leitura de notícias do jornal do dia e trechos de fala direcionada não a outro personagem, mas jogadas à plateia. É um exemplo de encenação pós-dramática, tanto pelo texto quanto pelas escolhas cênicas do diretor. Tudo está bastante afinado e a peça merece ser conhecida pelo grande público do teatro carioca.

Diene Ghizzo e Thiago Torres revezam-se em igualmente belas atuações, que dão lastro à trama maior. Há referências a parábolas bíblicas, influência estética do cinema de Lars von Trier e Ingmar Bergman e também alicerce filosófico no mito da caverna, de Platão.

A movimentação cênica, trabalho da grande especialista Sueli Guerra, também é dotada de qualidade especial. Luz e som apropriados, figurino adequado: a montagem encontra harmonia em seu visagismo.

Vale a pena conferir o trabalho dessa equipe. É uma experiência com jovens e talentosos artistas, que prometem muitos mais trabalhos, de qualidade ascendente, e, sucessos nas próximas décadas.

Felipe Mury
Felipe Mury
Felipe Mury é ator formado pela Casa de Artes de Laranjeiras e bacharel em Direito pela UFRJ. Amante das Artes Cênicas, especializou seu olhar em relação ao Teatro, sendo uma ficcionado por Shakespeare e Brecht.

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