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Os Incontestáveis: Simbolismos e metáforas sobre um Brasil corrupto

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A bordo de um Opala 73, os irmãos Bel e Mau viajam pelas estradas do Espírito Santo em busca do carro, um Maverick 77, que pertenceu ao pai, o velho Elói, que os abandonou na infância, deixando para trás apenas ressentimentos. A jornada os leva até a distante e esquecida vila de Cotaxé, palco de históricos conflitos de terra, fronteira e poder e onde o destino dos irmãos e da região entrarão em rota de colisão.

Às vezes, a busca por um carro, esconde algo muito maior e mais enigmático por trás.
Os Incontestáveis, cinema capixaba, que não é encontrado com muita frequência em grandes telas pelo Brasil traz atores, locações e uma história, que se encaixa dentro do gênero de filmes de estrada.

Os personagens não ganham profundidade, o que acaba deixando muito a desejar, já que você fica querendo saber mais sobre a história do Maverick e, porque ele é tão importante, além de ter sido do pai dos irmãos, que fica claro ter sido um péssimo pai. Esse ponto só me fez acreditar mais que nada do que estava na tela, não era exatamente aquilo, mas sim, uma máscara para um assunto mais específico.

Debochados, com humor ácido e grosseiros, Bel e Mau são praticamente anti-heróis, movidos a muito conhaque e ‘rock’. O que acaba entrando na vida dos atores, que, na verdade são músicos. Belmont, interpretado por Fábio Mozine – Produtor de Baixista da Mukeke di Rato, uma banda mais harcore e Maurício, interpretado por Will Just, guitarrista do Muddy Brothers, que tem uma pegada mais anos 70, algo psicodélico. – Inclusive os dois estão diretamente ligados a produção da trilha musical do longa, que mistura muito do ‘rock’ com o psicodélico.

Alguns aspectos acabam sendo aceitos depois de tanta repetição dentro do discurso dos personagens, como Bel que não para de falar ‘bicho’ e ‘bosta’, de forma que esse detalhe acaba trazendo uma naturalidade ao personagem.

Dentro de uma narrativa quase metafórica, algumas questões são abordadas dentro do enredo simbolicamente. Por exemplo, o prefeito do interior caricato e tachado de corrupto, a prostituta trans que não aguenta mais ficar no interior porque o estabelecimento não dá renda e até o mecânico que abre mais a oficina no final de semana por conta da religião. Todos esses pontos na realidade aparenta ser uma crítica à política, crise financeira e religião, respectivamente. A mulher que pede carona na estrada, e no minuto seguinte já está no banco de trás transando com um dois irmãos, também ilustra a mulher como objeto e apenas como uma simples guia para um puteiro da cidade.

Mostrando ótimas cenas tendo como protagonista o belíssimo Opala Amarelo, a fotografia caminha para uma mudança ainda mais literal, quando várias pessoas começam a embarcar e fazer parte da história, como um poeta violeiro, um velho com as suas crenças e lendas. A partir desse momento todo o conto caminha um filme com uma mistura de cordel e filme de faroeste, mais uma vez mostrando que nem tudo é o que parece, e sim uma máscara, é possível entender que essa briga tão poética e fantasiosa, é basicamente um briga entre a herança literária e/ou cultura, e uma herança mais material, como a do carro, por exemplo.

O longa foi premiado no Festival de Cine de La Serena no Chile como melhor longa-metragem Latino Americano em 2017, além de ter participado de mais de 15 festivais internacionais por mais de 10 países.

 

Mariane Barcelos
Mariane Barcelos
Designer de Moda que não liga para tendência. Apaixonada por música e cinema. Colunista, critica de cinema e da vida dos outros também. Tudo em dobro por favor, inclusive café, pizza e cerveja.

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