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Exposição no IMS Rio apresenta fotografias do maliano Seydou Keïta

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A mostra Seydou Keïta, exibida no IMS Paulista entre abril e julho, chega ao IMS Rio no dia 5 de setembro. A exposição apresenta 130 obras do fotógrafo maliano, considerado um dos precursores dos retratos de estúdio na África. Realizadas entre 1948 e 1962, suas fotos registram as expressões e os gostos dos habitantes de seu país. As imagens também documentam um período de transformação no Mali, que caminhava rumo à sua independência, em 1960. A curadoria é de Jacques Leenhardt, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, e Samuel Titan Jr., coordenador executivo cultural do IMS. No dia da abertura, às 18h, os dois conduzem uma visita guiada pela mostra.

A seleção inclui 44 tiragens vintage, em formato de 18 x 13 cm, ampliadas e comercializadas pelo próprio Keïta em Bamako, e exibidas, pela primeira vez no Brasil, na mostra no IMS Paulista. As demais obras são fotografias ampliadas na França, sob a supervisão de Keïta, ao longo da década de 1990, quando sua obra é redescoberta no país e também nos Estados Unidos. Em formatos mais clássicos (40 x 50 cm e 50 x 60 cm) ou francamente murais, chegando a 1,80 x 1,30 m, sinalizam a entrada do seu trabalho num circuito internacional de galerias e museus.

Autodidata, Keïta começou a fotografar logo após receber do seu tio uma Kodak Brownie, câmera popular na época. Curioso, tentava aprender a técnica enquanto trabalhava como carpinteiro, ofício de sua família. Aos poucos, aperfeiçoou sua prática, e também começou a revelar suas próprias imagens. Em 1948, abriu seu estúdio, onde retratou a elite de Bamako, a pequena-burguesia em ascensão em pleno regime colonial, mas também gente do campo em visita à cidade. Funcionários do governo, donos de lojas e esposas de políticos visitavam o fotógrafo, em busca de imagens que simbolizassem o seu status social.

Sua clientela era formada também por jovens, cujas vidas nas metrópoles contrastavam com a rotina e os saberes do campo. Em uma das poucas entrevistas que concedeu, Keïta menciona essas diferenças regionais. “No interior do país, era só pegar minha câmera que todo mundo corria de mim ou me dava as costas. As pessoas acreditavam que era muito perigoso ser fotografado, porque suas almas poderiam ser roubadas. Mesmo na cidade, algumas pessoas mais velhas tinham a mesma convicção.”

Essa tensão entre modernidade e tradição pode ser identificada nos próprios retratos produzidos pelo fotógrafo. Nas imagens, símbolos tradicionais, como as estampas coloridas dos vestidos, convivem com automóveis e rádios, grandes emblemas do sucesso econômico e de um estilo de vida ocidental. Em seu estúdio, Keïta disponibilizava para seus clientes várias roupas, como ternos europeus e boinas francesas. A convergência desses elementos aparentemente díspares também evoca um momento de ruptura histórica, como pontua Samuel Titan Jr.

“Estamos aqui às vésperas da independência da África Ocidental Francesa. Todos – tanto Keïta como seus clientes – estão às voltas com o gigantesco experimento social que se inaugura então, e a primeira tarefa que se impõe é menos a de tornar uma identidade cultural impoluta que a de tomar nas próprias mãos tudo aquilo que antes, forçosamente, era privilégio do poder colonial, num arco que vai da condução da vida política ao manejo de carros e câmeras, sem esquecer a escolha da roupa que se veste ou da pose que se assume no estúdio do fotógrafo.”

Até disparar o clique, Keïta realizava um procedimento meticuloso de “direção de arte”, compondo cada detalhe da cena. Ele costumava, por exemplo, criar correspondências formais entre os vestidos das mulheres, ricos em desenhos geométricos, e os fundos das fotografias, compostos por tecidos ornados com desenhos. Além de se preocupar com o cenário, Keïta orientava os clientes, coordenando seus gestos e poses diante da câmera, em busca do melhor ângulo. Como resultado, surgiam imagens delicadas, sempre em preto e branco, feitas a partir da colaboração entre o fotógrafo e seus modelos.

Também adotada por outros colegas, essa postura de empatia representava uma ruptura com os fotógrafos vindos da Europa que, durante muito tempo, retrataram o continente apenas com o olhar externo e distante do colonizador. “Essa atitude dos fotógrafos africanos demonstra que havia um comprometimento pessoal com seus clientes. Eles se comportavam como verdadeiros cenógrafos de uma existência que eles partilham, como se soubessem inconscientemente que, por trás de suas imagens, estava a dignidade de um povo inteiro, de seu próprio povo, da qual eram emissários”, afirma Jacques Leenhardt.

SERVIÇO
Seydou Keïta
Visitação: 6 de setembro a 27 de janeiro de 2019
Entrada gratuita
IMS Rio (Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea)

Rota Cult
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Redação do site E-mail: contato@rotacult.com.br

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