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HOTEL ARTEMIS: Thriller de ficção com uma atmosfera de alta periculosidade

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Em um futuro próximo, uma onda de protestos violentos se inicia após a privatização da água, a qual, agora, é vendida por preços abusivos. Em meio ao caos que toma conta da cidade de Los Angeles, dois irmãos (Sterling K. Brown e Brian Tyree Henry) que acabaram de realizar um assalto a banco, do qual um deles saiu gravemente ferido, vão ao Hotel Artemis, um local que, na verdade, trata-se de uma estalagem e hospital para criminosos — apenas associados —, onde os recém-chegados recebem, respectivamente, os nomes de Waikiki e Honolulu — uma vez que, por motivos de segurança, todos os hóspedes são chamados por codinomes referentes aos quartos em que estão alocados.

O estabelecimento — que é apenas um entre muitos similares espalhados pelo país — é gerenciado por Jean Thomas (Jodie Foster), uma enfermeira marcada por uma tragédia do passado. O braço-direito dela é Everest (Dave Bautista), que a ajuda a manter o lugar em ordem e fazer com que todos sigam as regras do hotel, cuja principal é não matar outro hóspede. No entanto, nesta noite em especial — em que o lugar está povoado por tipos peculiares, como o falastrão Acapulco (Charlie Day) e a misteriosa Nice (Sofia Boutella), cujas interações rapidamente constroem um clima de mistério —, logo chega ao conhecimento da Enfermeira que um de seus hóspedes planeja cometer um assassinato.

O roteiro, de Drew Pearce (Homem de Ferro 3) — também responsável pela direção —, estabelece uma premissa muito interessante ao concentrar um grupo de tipos perigosos presos em um hotel, criando um jogo investigativo — para o espectador — que segue na direção oposta ao do whodunit, pois não se trata de um “Quem Matou?” e, sim, um “Quem Vai Matar?” e “Quem Vai Morrer?”. Com isso, a atmosfera de tensão é muito bem criada — principalmente com a chegada de The Wolf King/Niagara (Jeff Goldblum), o mafioso mais perigoso da região. E, diante da ameaça crescente, Jean é o elemento que tenta equilibrar o ambiente, pois é uma pessoa que esqueceu de si mesma por causa de uma tragédia pessoal, dedicando-se somente ao hotel — de onde não sai há anos.

O primeiro ponto alto é o design de produção, muito imersivo — o cenário art déco, o uso do neon em referência aos tradicionais letreiros de hotéis de L.A. (tudo isso elevado pela cinematografia excelente), e toda a atmosfera de alta periculosidade leva o espectador para dentro da tela, o que, em um thriller, é essencial. Em consonância com com estes aspectos técnicos está a trilha sonora que faz um bom uso de músicas clássicas como California Dreamin’, Helpless e City of The Angels, além de mais 23 canções originais compostas por Cliff Martinez. A união destes elementos ajudam definir o teor excêntrico da trama — característica que se estende às personagens, como uma necessidade de dar coesão ao enredo, mas a missão, apesar de não ser fácil, está em mãos competentes.

Devido à natureza estilizada da produção, Foster teve uma tarefa difícil ao criar maneirismos e tiques, uma vez que a personagem sofre de ansiedade causada por algum nível de agorafobia e tem problemas com uísque — foi necessário tomar muito cuidado para não cair na caricatura, e a atriz conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio que torna crível o arco dramático da Jean. Outro nome que se destaca no filme é o de Sterling K. Brown, que se sai muito bem como um exímio ladrão que está no lugar errado na hora errada portando o objeto errado e tem que encontrar uma maneira de salvar a si mesmo e ao irmão debilitado. E, além dos dois astros premiados, quem também chama a atenção é Sofia Boutella, que está hipnótica em todas as cenas em que sua elegante badass Nice surge na tela como uma anti-heroína saída de HQ’s.

Contudo, enquanto apresenta um trio de protagonistas muito carismático, o roteiro acaba por negligenciar alguns personagens secundários e outros aspectos. Por exemplo, o criminoso Acapulco, basicamente, não tem função na história, servindo apenas para rivalizar com Waikiki e Nice no primeiro ato; Everest é um brutamontes adorável e não passa muito disso, apesar de colaborar no clímax, quando o embate físico — muito bem coreografado, aliás — tem papel crucial; e a personagem Morgan (Jenny Slate), embora seja apresentada como um elemento que elevaria a tensão e sensação de perigo iminente, tem uma participação subaproveitada que serve apenas para expôr ao público um pouco mais do passado de Jean, o que torna sua passagem pela narrativa pouco natural. Além disso, Honolulu não tem função além de ser um peso para o irmão.

Assim, este aspectos do roteiro poderiam ter sido mais desenvolvidos — em especial, se for levado em consideração o fato de que o filme tem apenas uma hora e meia de duração. Bem como a criação/expansão do próprio universo da história, uma vez que, por falta de exploração, os levantes contra a empresa responsável pela comercialização da água parecem apenas um artifício para prender as personagens no hotel — este arco poderia ter um contribuição maior para o enredo. Outro ponto que teria elevado a história são as regras que regem o Hotel Artemis — o quadro em que elas são expostas aparece por poucos segundos em tela e apenas a primeira delas (não matar outros hóspedes) é citada. E esta falta de aproveitamento de boas ideias leva a um terceiro ato que tinha muito potencial, mas acaba por ser um pouco anticlimático, pois o “grande problema” é resolvido muito rápida e facilmente, e o “grande vilão” da trama se mostra uma ameaça furada.

Além disso, o roteiro também falha ao aliar o tom das interações verbais entre as personagens com o clima de suspense e tensão da história; há algumas cenas expositivas — talvez o exemplo mais gritante seja o breve diálogo entre The Wolf King e seu filho, Crosby Franklin (Zachary Quinto, em um papel subaproveitado), que destoa completamente do resto da produção; é fácil para o público notar que, devido ao tipo de enredo que é apresentado, seriam necessárias altas doses de sarcasmo e falas afiadas, mas estas são poucas, infelizmente, e fazem falta (um tratamento um pouco mais tarantinesco cairia bem). Desta forma, Hotel Artemis é, sim, um bom filme — ele empolga, diverte e instiga —, tem um elenco de peso, uma premissa interessante, porém, peca ao apressar sua trama, subaproveitar personagens coadjuvantes e recorrer à exposição em vários momentos, deixando claro que o longa perde muitas oportunidades de transformar algo bom em algo ótimo.

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