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O Homem Que Parou o Tempo: drama psicológico ou ficção científica?

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Ainda que fazer cinema no Brasil não seja uma tarefa fácil – fato que é afirmado, reafirmado e confirmado por dez entre dez cineastas, atores, atrizes, produtores, etc., sempre que possível –, o crescimento observado nos últimos anos revelam uma ampliação na gama de gêneros abordados pelos cineastas, abrindo espaço também para novos nomes no mercado cinematográfico brasileiro. Um exemplo disso é Hilnando SM, responsável por produção, roteiro e direção do longa O Homem Que Parou o Tempo, que chega aos cinemas no próximo dia 13, flertando com a ficção científica, nicho ainda pouco explorado no Brasil.

Embora a empreitada se mostre corajosa e seja digna de atenção, é necessário ressaltar que, após assistir ao filme, fica claro uma certa discrepância entre a sinopse e o material exibido na tela. O resumo que vende a história é: “Um drama psicológico que flerta com a ficção científica e aborda o delicado universo de João (Gabriel Pardal) um cara que tenta pôr em prática um plano um tanto insólito – conseguir parar o tempo. Após dedicar anos de sua vida ao estudo de física quântica, relatividade e fenômenos atemporais, decide, finalmente, botar seu ousado plano em prática. Mas, para realizar os experimentos que precisa, ele terá que cometer uma espécie de “suicídio social”, embarcar em uma solitária viagem sem volta, que o isolará de sua família e amigos, trazendo graves consequências a seu estado mental. Isolado em seu micro-apartamento de fundos, num Rio de Janeiro distópico, abandonado e ao mesmo tempo ocupado pelos únicos que não conseguiram ir embora antes da grande crise, mostra que conseguir parar o tempo tornará-se uma difícil viagem solitária e que levará João até às últimas consequências.”

Apesar da premissa interessante, o que se vê na tela ao longo dos 61 minutos de duração do filme não é exatamente a trama que é apresentada na sinopse. Um espectador que, por ventura, assista à produção sem prestar muita atenção a este resumo pode se decepcionar, uma vez que, em resumo, parece muito mais que o protagonista João é um homem que mora em um apartamento desleixado e que realiza um trabalho que ele odeia para conseguir pagar o aluguel e, portanto, encontra-se afundando-se cada vez mais em um estado depressivo; nem mesmo dos diálogos ou as tomadas de João encarando e aperfeiçoando o seu plano – resumido a uma porção de papeis colados na parede da sala/quarto de sua moradia – são capazes de fazer com que o público entenda quais são as intenções da personagem sem necessitar da ajuda da sinopse.

Assim, por mais que, visando os aspectos técnicos, a produção possua alguns detalhes interessantes – principalmente no que diz respeito à direção –, como, por exemplo, as constantes tomadas dos pés do protagonista, ora suspensos na beirada da cama, ora fincados na areia da praia, demonstrando a necessidade e ansiedade da personagem de se sentir real, com os “pés no chão”, vivendo o “aqui e agora”, ou as cenas de cabeça para baixo que ilustram a desconexão de João com o mundo, por fim, O Homem Que Parou o Tempo possui um parco – ou nenhum – desenvolvimento, desperdiça um nome de peso do Cinema Nacional contemporâneo como Camila Márdila – premiada internacionalmente pelo longa Que Horas Ela Volta? –, cuja personagem não tem muito o que fazer além de servir de dispositivo para mostrar o afastamento de João da vida social, o que contribui para a conclusão de que: o longa não consegue cumprir a tarefa a qual se propõe e algumas decisões de direção dão ao filme um tom de trabalho de graduação em Cinema. É uma pena, pois a sinopse é muito boa.

 

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