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Um Dia: As nuances que permeiam a existência da mulher

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A rotina, o cotidiano prosaico, é sempre um tópico de discussão: alguns anseiam por ela e outros a repelem com todas as suas forças. Mas o fato é que ela se faz presente na vida de todas as pessoas, em especial nas das mães, as quais são sempre colocadas como a força propulsora das famílias e, portanto, têm seu dia-a-dia sempre muito parecidos. E é exatamente isso que Um Dia, longa de estreia da diretora húngara Zsófia Szilágyi, retrata ao acompanhar a protagonista Anna (Zsófia Szamosi) ao longo de 24 horas, voltando sua atenção para as nuances, os pequenos detalhes que permeiam a existência dessa mulher.

Assim, uma das principais preocupações da diretora – também responsável pelo roteiro – é mostrar não uma personagem, mas uma pessoa real, com uma vida normal e problemas humanos. Desta forma, Anna está passando por uma crise pouco debatida em seu casamento, tem que criar três filhos pequenos, além de tentar manter o equilíbrio mental e físico para exercer seu trabalho como professora. E neste dia que tem o público como testemunha tudo está como o esperado – o marido que não quer discutir o relacionamento, a filha que leva um tombo, o filho que esqueceu de fazer o dever de casa – e a questão aqui é justamente essa: é mais um dia.

No entanto, sendo uma obra difícil de traduzir em palavras, sem o olhar íntimo e certeiro da diretora, a trama pode parecer monótona ou pouco interessante, mas ao vê-la na tela, o espectador percebe que ela é o exato oposto e muito disso se deve ao trabalho de Szamosi, que – no bom sentido da expressão – carrega a produção, quase assumindo o papel de Atlas que é tacitamente imposto à sua personagem. Ela é, sem dúvida, uma daquelas atrizes que valoriza as matizes que compõem uma interpretação; com o olhar, pequenos gestos e inflexões vocálicas, Szamosi com transmitir com eficácia e, principalmente, impacto a aflição quase asfixiante que cresce gradualmente em Anna conforme ela desempenha as tarefas diárias, embora tenha que manter uma aparência controlada.

Deste modo, por meio da câmera intimista de Szilágyi e do trabalho primoroso de Szamosi, é praticamente impossível não se identificar ou se relacionar com Anna, sua sensação de clausura e impotência diante dessa coissa tão implacável que é a rotina e sua crescente vontade de sumir, exposta pelo distanciamento do ohar da personagem nos momentos em que a mente faz o que o corpo gostaria de fazer mas não pode: ir para longa, para a tranquilidade, para a quietude, para algo que seja capaz de recarregar sua energias quase totalmente esvaídas pelo estado de confusão do dia-a-dia – afinal, Anna não quer abandonar a família; ela é uma mãe carinhosa e dedicada que deseja que seu casamento volte aos eixos e anseia por um tempo para si.

Por fim, “Um Dia” se mostra um retrato verdadeiro, pessoal, delicado e um pouco angustiante da rotina de uma mãe que quer apenas ter controle sobre sua vida sem recorrer a mudanças drásticas; tudo o que ela busca é o equilíbrio entre um momento pessoal e um momento para a família/casamento/trabalho e todas estas camadas de personalidade e desejos são muito bem capitadas pelo olhar atento de Zsófia Szilágyi aos movimentos naturalmente calculados de Zsófia Szamosi. Com isso, a diretora faz uma excelente estreia no cinema realizando uma bem-sucedida dobradinha para contar uma história universal, afinal, quem nunca ouviu – ou falou – alguém – uma mãe – dizer que queria sumir?

 

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