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BUDDIES: A PRIMEIRA APARIÇÃO DA AIDS NO CINEMA

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Quando David Bennett (David Schachter), um yuppie gay de 25 anos, torna-se voluntário para ser um “buddy” – amigo – para pacientes com Aids, ele conhece Robert Willow (Geoff Edholm), um jardineiro californiano de 32 anos altamente politizado que foi abandonado pela família, amigos e amantes. À princípio reticente e um tanto quanto formal, o jovem, aos poucos, apega-se ao paciente conforme os dois passam cada vez mais tempo juntos no quarto do hospital – onde se passa a maior parte do filme – no qual Robert está internado, em Manhattan, dividindo histórias a respeito de seus respectivos passados, experiências sexuais, posicionamentos políticos e até mesmo falando sobre Deus. Paralelamente a isso, as impressões de David acerca da convivência com seu novo amigo são narradas em off à medida em que ele as escreve em um diário.

Esta é a sinopse de Buddies, o primeiro filme ficcional a falar sobre a epidemia de Aids na década de 80. Dirigido por Arthur Bressan Jr., o longa foi lançado pela primeira vez em 1985, sendo o último filme da carreira do diretor, que faleceu devido a complicações da doença dois anos depois. Distribuído originalmente pela New Line Cinema – que, na época, ainda era uma distribuidora muito pequena, expandindo-se apenas na década seguinte -, a produção, considerado por muitas organizações LGBTQ+ uma das melhores sobre o tema – foi esquecida pouco tempo depois de seu lançamento em VHS. Contudo, por meio de esforços da irmã de Arthur Bressan, Roe Bressan, o filme foi recuperado e, agora, pode ser apresentado a uma nova geração para mostrar o por que de ele ser tão importante, mesmo tendo passado décadas em uma cápsula do tempo.

Antes de qualquer coisa, é necessário saber um pouco mais sobre o realizador da obra. Bressan era um nova-iorquino que foi pioneiro no cinema gay dos anos 70, passando por diversos estilos – como curta-metragem, filmes adultos, documentários e ficção – e produzindo longas que até se tornaram conhecidos, tais quais “Passing Strangers”, de 1974, e “Abuse”, de 1983, o que fez com que ele recebesse aclamação na mesma medida em que era alvo de controvérsia. Outra questão que precisa ser destacada é o contexto em que Buddies foi feito. Com a crescente epidemia de Aids – sendo a cidade de Nova York o local com o maior número de casos dos Estados Unidos -, a população gay passou a ser alvo de ataques – em especia de grupos fundamentalistas religiosos, os quais alegavam que a doença era uma punição enviada por Deus para castigar os homossexuais por suas vidas em pecado; aliás este tópico rende uma ótima discussão entre David e Robert, que encerra a questão afirmando que “um Deus cruel não é um Deus de verdade”.

Porém, por mais que o número de pessoas acometidas e morrendo em decorrência da doença não parasse de crescer, o governo estadunidense – na época, liderado por Ronald Reagan – simplesmente ignorava a questão, tapando os ouvidos para os incansáveis pedidos de liberação de verba para pesquisas. E é por meio desta problemática que o enredo trata sobre o preconceito com os pacientes e a homofobia, indagando se o posicionamento estatal seria o mesmo caso as vítimas fossem os filhos heterossexuais dos políticos. É assim, utilizando-se dos assuntos que eram debatidos na época em que a doença estava no centro das atenções, que o filme envolve o espectador, discutindo o zeitgeist e suas motivações. É claro que, sendo aprimeira vez que o tema chegava ao cinema – ainda mais de modo independente -, há alguns detalhes o público atual, que se acostumou com produções mais famosas e de maior orçamento, como os aclamados The Normal Heart e Clube de Compras Dallas, pode estranhar um pouco.

Por exemplo, o roteiro – escrito em cinco dias -, por vezes, assume um tom quase didático para reafirmar suas ideias, fazendo com que as personagens verbalizem para o espectador emoções que deveriam ser despertadas nele – não é algo que chega a incomodar, mas é perceptível; por outro lado, o enredo faz um bom trabalho ao mostrar as consequências da doença. Além disso, as atuações estão longe de serem excepcionais, exibindo algumas tendências de atores inexperientes, mas que fazem o seu melhor e entregam interpretações eficientes. E algumas escolhas da direção tornam o filme ainda mais interessante, como o fato de a câmera ter interesse apenas em David e Robert, fazendo com que todas as outras personagens – tais quais Steve, namorado de David – sejam apenas ouvidas, nunca vistas na tela – afinal o longa é somente sobre estes dois amigos improváveis.

Assim, o filme foi uma produção audaciosa e pioneira em sua época e, mesmo que tenha suas falhas, consegue, até hoje, cumprir sua proposta e, por sua simplicidade, emocionar o público, o qual, por fim, percebe que este é muito mais do que “um filme sobre a epidemia de Aids”; ele é um retrato de como os pacientes – e, consequentemente, os gays – eram vistos naquele período, uma discussão acerca dos direitos dos homossexuais, um representante de toda uma era da história LGBTQ, e, acima de tudo, foi um grito por financiamento federal para pesquisas sobre a Aids – clamor evidenciado de maneira contundente na cena final. E, agora – com o relançamento da versão restaurada – Buddies pode se tornar uma mensagem dos LGBTQ’s de 1985 para os LGBTQ’s de 2018.

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