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PROFILE: O CATFISH DE UMA JORNALISTA NA JIHAD 2.0

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Uma das principais questões da atualidade são as ações dos membros do Estado Islâmico, grupo terrorista que tem conquistado muitos adeptos, em especial na Europa. E um dos pontos de maior interesse é entender como ele consegue atrair tantas pessoas que se converteram ao Islamismo. Assim, a jornalista britânica Amy Whittaker (Valene Kane) tem como missão entrar em contato com um destes recrutadores da chamada Jihad 2.0 por meio de um perfil falso nas redes sociais a fim de conseguir estas informações para uma reportagem.

Esta é a sinopse de Profile, thriller dramático do diretor cazaquistanês Timur Bekmambetov baseado no livro “In the Skin of a Jihadist” (“Na Pele de uma Jihadista”, Editora Paralela), da jornalista francesa Anna Erelle (nome fictício), que narra a história real sobre como ela iniciou um “relacionamento” com um jihadista para obter informações acerca do EI, em 2014. E para contar esta história, a produção optou por um formato que vem se tornando cada vez mais popular nos últimos anos: o público passa a uma hora e meia de duração do filme observando a tela do computador de Amy.

Assim, o longa começa com uma breve preparação da jornalista para conseguir desempenhar sua missão. Então, ela assiste a alguns tutoriais, lê sobre garotas que se converteram ao Islamismo, juntaram-se ao EI e o que aconteceu com elas quando tentaram fugir, utiliza relatos reais para criar um background crível para sua personagem, Melody Nelson, de 19 anos, recém convertida. Tudo isso enquanto tem de lidar com a pressão de Vick (Christine Adams), a editora-chefe linha dura da emissora na qual Amy visa uma vaga fixa na equipe, com Lou Karim (Amir Rahimzadeh), colega de trabalho que lhe presta uma espécie de coaching sobre o Islã, com Matt (Morgan Watkins), o noivo egoísta e um tanto controlador, e as cobranças do aluguel atrasado.

Com uma montagem ágil e precisa que nunca deixa os diversos elementos presentes na tela se misturarem, o primeiro ato do longa cria muita expectativa no público, assim como as preocupações de Amy a respeito das possíveis consequências da reportagem aumentam a tensão da trama imediatamente após Abu Bilel (Shazad Latif), um recrutador, entrar em contato com ela. Apesar da periculosidade da situação, um dos acertos do roteiro foi justamente não pintar o homem com um vilão; ao se livrar das amarras maniqueístas, o enredo consegue mostrar com exatidão como se dá o processo de aproximação e convencimento dos recrutadores com suas vítimas – o que em determinado momento, chega a gerar dúvidas em Amy, que apesar do comportamento machista e, por vezes, explosivo de Abu, não consegue vê-lo puramente como um objeto de estudo.

Desta forma, até mesmo público consegue encarar o recrutador com olhos menos duros e descrentes ao longo do segundo ato, quando Amy/Melody conversa com Abu por vídeo-chamada no Skype todos os dias. Já estabelecida alguma intimidade e confiança entre os dois – que chegam a falar sobre casamento -, o passo seguinte seria descobrir como as jovens convertidas são levadas para a Síria, o que faz com que Amy – apesar do risco e das advertências de Vick – vá cada vez mais fundo em sua história, inclusive, confundindo, por um momento, a realidade e a história de sua personagem.

Por um lado, isso mostra o quanto as técnicas de recrutamento podem ser eficazes, porém, é exatamente neste ponto da história – na virada do segundo para o terceiro ato – que a trama perde o ritmo e agilidade, parecendo andar em círculos por alguns minutos – é aquele momento em que o espectador olha, discretamente, para o relógio. Porém, o enredo volta a ganhar fôlego já perto do fim com um twist que coloca a vida de Amy em risco caso a reportagem seja veiculada, criando muita tensão acerca da escolha que será feita em uma cena realmente boa entre a jornalista e Vick, o que eleva o tom de suspense do longa, que chega até a flertar com o terror psicológico.

Assim, Profile é um longa com uma trama muito interessante, atual e que mexe com as emoções do público. O roteiro derrapa um pouco no fim de segundo ato e quase segue em uma direção que tinha grandes chances de estragar a história que, até então, estava se desenvolvendo muito bem. O que ainda consegue prender a atenção do espectador é a atuação de Valene Kane – que em muitos momentos é apenas ouvida nas gravações -, que consegue transitar muito bem e com muita rapidez entre a personalidade racional de Amy, a mais emocional de Melody e a mistura entre as duas.

Além disso, o fato de o enredo não acontecer em tempo real – ao longo do filme, o público vê que tudo aquilo já aconteceu e que está assistindo às gravações salvas em pastas do computador de Amy – também funciona como um fator que desperta o interesse do espectador em saber o fim da trama e, por isso, consegue relevar o momento em que a produção quase se perde em sua própria narrativa, apesar de retratar um caso real – ou seja, trata-se de uma ótima história contada em um bom filme.

Mostra: Midnight

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