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2 OUTONOS 3 INVERNOS: Um protesto à romantização

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A França, sendo pioneira no cinema, possui uma gama muito ampla de produções , as quais sempre trazem algo de novo em algum aspecto, mas sempre buscando a inovação, até mesmo em seus gêneros mais clássicos, como as dramédias. Este é o caso de 2 Outonos 3 Invernos, longa escrito e dirigido por Sébastien Betbeder, que mostra a história de Arman (Vincent Macaigne), um homem de 33 anos que se sente estagnado na vida apesar suas ânsias artísticas, e Amélie (Maud Wyler), uma mulher que começa a sentir a passagem do tempo à medida que se aproxima da casa dos 30, e como estas duas pessoas desenvolvem e tentam manter um relacionamento após se esbarrarem – literalmente.

O longa é dividido em pequenos capítulos, os quais valorizam os aspectos subjetivos da trama, destacando as sensações destas pessoas em cada situação. Assim, o roteiro é dotado de uma exposição deliberada – de tom quase literário -enquanto as personagens se auto descrevem e narram os acontecimentos – utilizando-se, inclusive, da quebra da quarta parede em um jogo cênico que lembra o magnus opus de Woody Allen, Annie Hall. E, além da trama do casal, há ainda a história paralela de Benjamin (Bastien Bouillon), amigo de Arman, que, aos 30 anos, sofre um AVC e acaba por iniciar um relacionamento com Katia (Audrey Bastien), sua ortofonista.

Apesar de apresentar tons distintos para cada um de seus arcos, o longa consegue estabelecer uma unidade ao criar uma linguagem própria que flerta com diversos gêneros, como o documentário, reconstituição de caso – incluindo até “depoimentos” das personagens em um fundo de chroma key propositalmente mal feito – e até mesmo flertando com a “reportagem cinematográfica” do novo jornalismo em algumas cenas. Tudo isso dá um ar quase experimental à produção sem que esta o seja de fato, uma vez que os momentos que poderiam assumir um matiz mais metafórico são explicados de forma lógica em prol do humor – o que foi uma proposta interessante.

Contudo, por mais que o longa consiga ter uma identidade própria, o desenvolvimento do enredo é prejudicado por uma mudança de tom entre o primeiro e os outros dois blocos da história, nos quais a nota de desajuste cômico é abandonada e substituída por um teor majoritariamente dramático, o que dá a sensação de que o filme é mais longo do que a sua uma hora e 27 minutos. Além disso, há algumas escolhas narrativas que não são desenvolvidas e, portanto, parecem despropositadas e aleatórias – como a suposta conexão mental entre Benjamin e sua irmã, Lucie (Pauline Etienne). Mas estes baixos do roteiro são amenizadas pelo elenco, o qual mostra uma verdadeira naturalidade, apresentando pessoas comuns que estão sendo acompanhadas por uma câmera.

Desta forma, “2 Outonos 3 Invernos” é um filme que tem uma proposta interessante para abordar um tema que já foi retratado no cinema incontáveis vezes das mais diversas formas; o longa trata sobre relacionamentos de uma maneira agridocemente realista, passando pelas crises, os momentos de solidão, reafirmando que ideia de que sempre existirá o fim do começo e o começo do fim em um ciclo que pode ser quebrado ou não, dependendo das escolhas pessoais de cada um.

E, por fim, a produção consegue cumprir o propõe mesmo com decisões que podem soar questionáveis – elas não tornam o filme ruim, foram apenas opções feitas -, mostrando-se uma história mais adulta do que o esperado e trazendo a simples mensagem – a qual deveria ser óbvia, mas é constantemente esquecida devido à romantização crônica das relações – de que quando o encantamento inicial passar, não é necessário destruir, pois um relacionamento pode ser construído, desconstruído e reconstruído.

 

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