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Era Uma Vez Um Deadpool: Um recorte comercial do anti-herói da Marvel

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Por: Janda Montenegro

Sabe quando alguém tenta fazer bullying com uma pessoa, fazendo piada dela, só que a pessoa ao invés de se sentir afetada por aquilo, ao contrário pega a piada e ri tanto dela que acaba desconstruindo a provocação ao ponto de inverter a situação, deixando o provocador com cara de idiota? Pois bem, essa é a relação entre os dois filmes do Deadpool esse ano e os críticos de cinema.

Em Deadpool 2, lançado no primeiro semestre do ano, houve toda uma polêmica envolvendo a classificação etária do filme – o excesso de palavrões e cenas de violência explícita enquadraram o filme para maiores de 18 anos no Brasil, porém dois dias depois da estreia e uma ação judicial, caiu para 16 anos. Ao que parece, todo esse fuzuê em vez de enfraquecer a franquia, só a tornou mais forte, e por isso mesmo os produtores resolveram fazer Era uma vez um Deadpool, que, supostamente, seria uma versão sem palavrões e sem violência do outro filme. O resultado, porém, não é bem esse.

Logo no início do filme o herói do collant vermelho sequestra o ator e diretor Fred Savage e o obriga a ouvir a história do segundo filme, contado pelo Deadpool, com vozinha de narrador típica. Todas as cenas de interação entre Savage e o Herói Tagarela funcionam, não só por serem inéditas, mas principalmente por sacanearem a própria crítica do cinema – por exemplo, ao assegurar que a crítica falou que o segundo filme era ruim e que, por causa disso, teriam resolvido fazer uma versão amenizada da história, etc.

Tirando isso, todo o resto é igual, sinceramente. É como ver a versão estendida e comentada pelo diretor, do segundo filme, só que, no caso, pelo próprio protagonista. Todo esse lance de “vamos pegar mais leve” na verdade foi só fachada, pois a história está toda lá, inclusive a cena grotesca do Deadpool com pernas de bebê. E por conta dessa pretensa intenção de tentar amenizar a história, os produtores conseguiram entregar um filme mais chato ainda que o original, que talvez não funcione nem para os fãs do herói – que, obviamente, preferem a versão mais hardcore do Falastrão. Podia ter sido um filme direto para a TV, sem nenhuma necessidade de estrear no circuito.

Apesar de tudo isso, há uma coisa LINDA nesse filme. É o primeiro da Marvel que estreia no circuito após a morte de Stan Lee. Ao final do filme, depois do pós-crédito, há uma entrevista com o criador da Marvel, mostrando os bastidores da gravação de sua participação do filme e um breve comentário dele dizendo que o que mais importa para ele é essa sensação de as pessoas poderem se sentir heróis graças ao legado que ele ajudou a construir. Esse pós-crédito não dura dois minutos, mas é suficiente para levar os fãs e admiradores às lágrimas.

No mais, Era Uma Vez Um Deadpool é uma pegadinha do Malandro sem graça, tipo presente de inimigo oculto. Ingresso para dar de presente de Natal para aquele colega mala da sala de aula que você quer trolar nesse fim de ano.

 

Janda Montenegro
Janda Montenegro
Escritora, roteirista, mestranda em Literatura Brasileira pela UFRJ, crítica de cinema, tradutora e revisora.

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