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Fevereiros: A arte e a religiosidade de Maria Bethânia na Sapucaí

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No carnaval de 2016, a Estação Primeira de Mangueira apresentou na Marquês de Sapucaí um samba-enredo que contava a história de uma das maiores cantoras do Brasil, a baiana Maria Bethânia. A escolha foi certeira, consagrando a Verde-e-Rosa a grande campeã daquele ano. Agora, o diretor Márcio Debellian traz aos cinemas Fevereiros, documentário que fala sobre a vitória da escola de samba, assim como a união entre Rio e Bahia representada por sua homenageada.

Desta forma, a produção começa mostrando a ligação de Maria Bethânia com sua cidade natal – Santo Amaro, no Recôncavo Baiano – por meio de depoimentos da própria cantora e de seus irmãos, Caetano e Mabel Veloso, e imagens antigas que transportam o espectador para o passado da família. E, já neste início, outros viéses do documentário começa a ser delineado: o sincretismo religioso e a mistura cultural que Maria Bethânia representa.

Baiana de nascimento e carioca por opção, a cantora é o ponto de conexão entre estes dois locais nesta narrativa, seja pela música – uma vez que o samba que tornou o Rio mundialmente famoso tem suas raízes no maior porto negreiro da História brasileira – ou pelas religiões – Catolicismo e Candomblé -, que coexistem em território Baiano sem conflitos. Por meio dos depoimentos, o diretor consegue acessar estes temas transversais, os quais são extremamente importantes para compreender a personagem principal.

Assim, a produção expõe o sincretismo que forma Maria Bethânia, em especial, ao mostrar sua devoção por Nossa Senhora e seu respeito pelos orixás, deixando claro o posicionamento da cantora, a qual acredita que o objetivo de qualquer crença é a evolução espiritual de seus praticantes e, por isso, todas são válidas e devem ser respeitadas.

Apesar de esta imersão nas memórias e na vida de Maria Bethânia ser interessante, o tempo dedicado a este mergulho faz com que o tema principal do documentário – o samba-enredo – seja esquecido, surgindo na tela somente quando o viés nostálgico zera e, com isso, a narrativa assume um aspecto um tanto quanto “compartimentado”, como se não soubesse relacionar seus vários pontos de maneira natural, por mais que seu objetivo seja esse.

Por mais que faça sentido que, primeiro, a produção mergulhe na vida da cantora para, depois, voltar-se para o samba que a homenageia, a divisão da abordagem em dois blocos distintos, passa a sensação de trancamento da narrativa; teria sido mais eficaz alternar, trançar, estas duas linhas temáticas desde o início, o que as tornaria mais fluidas. No entanto, o samba-enredo da Mangueira só entra em cena em um segundo momento, quando o carnavalesco Leandro Vieira passa a explicar a adaptação da vida de Maria Bethânia para a avenida.

Assim, Fevereiros é um documentário que usa sua protagonista como uma personificação da religiosidade, do sincretismo, da arte e, principalmente, da miscigenação que forma o Brasil, mas sem cair na armadilha de torná-la um ser “Além-do-Humano”. Embora algumas tentativas de mostrar esta mistura/união não alcancem seu objetivo, a produção faz um bom trabalho ao mostrar o motivo pelo qual a Estação Primeira de Mangueira foi campeã quando Maria Bethânia passou pela Marquês de Sapucaí.

 

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