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O papel de Silencio dos inocentes na história do cinema e dos personagens femininos

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Hoje é noite de Screen Actors Guild Awards (cerimônia de premiação em que atores premiam outros atores e cineastas) que por consequência se torna um dos vários termômetros para o Oscar. Por consequência é legal relembrar o ultimo filme a vencer as principais categorias (filme, diretor, ator, atriz, roteiro adaptado) mesmo que o Screen Actors tenha sido criado apenas em 1995 e Silêncio dos Inocentes seja de 1991.

Alfred Hitchcock (meu diretor favorito da vida) uma vez, das várias em que ele tocou no assunto, definiu que suspense é “Não há terror em um estrondo, apenas na antecipação dele”. Essa filosofia tão forte na Era de Ouro do diretor perdeu força com a onda de terror slasher nos anos 70 e 80, quando a palavra de ordem passou a ser a contagem de corpos que se acumula durante a produção em detrimento da preparação e ambientação.

Em outras palavras, no início do século XX obras como The Lodger, M – Eine Stadt sucht einen Mörder, Les Vampires e na segunda metade do século Psicose, Janela Indiscreta, Exorcista, Os Pássaros e o grande filme de transição entre o terror clássico e o slasher Massacre da Serra Elétrica, definiam uma estrutura de narrativa gradativa que primeiramente se esforçava para ambientar o espectador no cenário pré determinado como hostil e eventualmente introduzir melhor os protagonistas, assassino e concluindo com o embate.

Como dito anteriormente, a chegada dos filmes no estilo slasher mudou o panorama do gênero terror. Os cenários se tornaram propositalmente comuns ( até porque o orçamento desses filmes era bem limitado), os personagens superficiais, o assassino só se revelaria no fim e a dose se violência seria maior. Dito isso, Silêncio dos inocentes tem um mérito muito próprio de juntar o melhor dos dois mundos.

Começando por introduzir a ambientação realística quando de dia e expressionista alemã quando se está a noite, o filme inicia ambientando o espectador no cenário em que tem uma protagonista que ainda não é agente do FBI, um serial killer à solta e um outro preso.

Logo mais conhecemos o passado da protagonista, as informações superficiais do porque Hannibal Lecter é considerado tão perigoso e como ele manipula a protagonista, finalizando com o modus operandi de Bufallo Bill (totalmente inspirado em Ted Bundy, que inclusive ganhou documentário recentemente na Netflix).

Em seguida tem o confronto, que não é apenas a magnífica sequencia no escuro porão de Bill, ela é a conclusão do confronto, mas que se inicia com a investigação de Clarice. Demme foge do padrão justamente porque o embate físico ainda não ocorreu, porém o embate ideológico está a pleno vapor. Como em um jogo de xadrez, aonde Clarice faz uma jogada, Bill faz outra e assim por diante ( ambos tendo Lecter como uma espécie de juiz por assim dizer).

Porém Silêncio dos Inocentes trabalha com o que há de melhor no slasher, o que geralmente eram as criativas cenas de assassinato e o alto nível de efeitos práticos nas cenas gráficas ( a grande referencia sempre será Tom Savini). As fotos de vitimas anteriores de Bill foram todas tiradas de atrizes que colocaram próteses ensanguentadas, o manequim com o “corpo” que Bill estava montando com base nas peles arrancadas foi construído com peças de couro, bem como o falso rosto que Lecter usa para escapar.

As cenas de assassinato, como mencionado, invocam o melhor do gênero. Seja Lecter se encharcando de sangue ao golpear alguém até a morte ou mordendo-o, seja a quase morte de Clarice no escuro, todas possuem a construção e brutalidade do slasher e terror clássico porém com um toque refinado.

E ainda assim, Silencio dos inocentes nunca foi definido pelo próprio diretor Jonathan Demme como um terror, mas sim como um filme feminista (o próprio afirma isso no making off do filme), fazendo assim com que ele antevisse as tendencias do cinema moderno. Provas disso não faltam, Clarice é uma das poucas mulheres em um FBI majoritariamente masculino, o assassino é um homem que cobiça a feminilidade alheia, Clarice recebe cantadas diariamente, além de constantemente às referencias ao sexo quando um personagem masculino interage com ela. Ainda assim, segundo Demme, a história é principalmente sobre uma mulher que tentará de tudo para salvar uma outra que se encontra em perigo.

Tudo isso dito até aqui para mostrar que o ultimo filme a praticamente levar o Oscar por completo para casa (sem ajuda de lobby) ensina valiosas lições que devem ser aprendidas pelos cineastas atuais. A de que o cinema já se inventou, reinventou e inventou de novo mas que todas essas mudanças só ocorreram por já existia uma base tida como regra no passado e o truque, aparentemente, é aprender com essa base e trabalhar com o que ela tem de melhor.

É visível que o cinema hollywoodiano quer se reinventar a todo custo, principalmente para tirar a sina de racista ou machista. Silencio dos inocentes pode servir como um aviso de que a mudança não vem da noite para o dia, mas do aprendizado.

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